tag:blogger.com,1999:blog-33078891280025813102024-03-14T13:50:50.540-03:00Não fui eu, foi meu Eu LíricoO espaço é das palavras.Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.comBlogger90125tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-44125780132462955712015-01-08T17:52:00.003-02:002015-01-08T17:52:59.697-02:00Passional<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“E eu posso afirmar pra vocês, seus bêbados inúteis! Este país ainda vai ser a maior potência industrial que qualquer um já viu. E neste dia, todos aqui vão lembrar de mim!”</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Gilberto, esse teu progressismo ainda vai te deixar em apuros. Cuidado, homem!”</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Qual nada! Alguém deve começar a pensar pra frente. O Brasil não foi feito para ficar estagnado. Tudo vai mudar vocês vão ver.”</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ao final da pauta inflamada sobre o quadro econômico nacional, Gilberto foi saudado com aplausos e copos ao ar por todos no bar que o ouviam ou que estavam ali afogando o resto de seus dias. Antes que pudesse levar o próximo copo à boca, o orador do “Bar 5 estrelas” sentiu uma mão suave correr pelos seus ombros e achou que era hora de deixar as companhias de sempre por uma mais nova e muito mais interessante.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O quarto rescendia a essência de rosas, sobre a cama. Lençóis simples, mas muito asseados, algumas velas acesas davam ao ambiente um tom de classe e intimidade que servia para que fosse possível “esquecer da rotina e lembrar de nós”, era o que estava escrito no bilhete que Maria pôs no bolso do casaco do marido sem ele perceber antes de sair pela manhã. Ela olhou no relógio e eram nove horas e pensou que tudo bem, talvez ele tivesse se atrasado com o trabalho ou que então estivesse trazendo algum presente para ela. Sorriu e terminou de se perfumar ao pensar nisso.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ela acordou com o barulho forte da porta sendo puxada por Gilberto. Levantou da cama e ao olhar para o marido viu que a noite planejada tinha acabado. Ele estava bêbado demais para qualquer tipo de coisa que não fosse um banho gelado, mas o que fez Maria realmente despertar foi que depois de alguns instantes o perfume das rosas havia se transformado em algo mais refinado, diferente e feminino, logo ela imaginou o pior.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Checou as roupas do Marido e encontrou um bilhete, mas com outra letra e uma marca de batom. Suspirou baixinho e se dirigiu até a cozinha, pegou uma xícara de café e um cigarro, o último de sua carteira. Ficou observando os ponteiros do relógio. Já eram três da manhã e nada mais soava a não ser a água do chuveiro. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Dentro do banheiro Gilberto voltava a si com a cabeça em giros acelerados e dolorosos. Já não sabia o que tinha bebido, mas parecia forte demais mesmo para ele. Lembrava pouco, mas lembrava que tinha se envolvido com outra mulher. O que e se tinha feito alguma coisa não tinha bem certeza. Pensava no que dizer a Maria e lembrou que aquele era o dia de aniversário de casamento deles, mas agora era tarde demais e o jeito é tentar se safar. Nisso, ouviu os passos da esposa entrar de novo no quarto e abrir a porta do banheiro.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Amor?...”, tentou a primeira aproximação</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Por que logo hoje?”, disse ela calmamente.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Foram os caras lá do cartório. Eles disseram que não iam se demorar, que era só uma dosezinha… Olha, me desculpa, tá legal? Eu vou consertar tudo isso, eu te juro”</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Vai sim, Gilberto.”</span></div>
<span id="docs-internal-guid-080ad133-cb18-d6d7-176f-ce99acbd8100"></span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.5; margin-bottom: 10pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Calibri; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A vizinhança acordou com os três estampidos que definiram a noite do aniversário de casamento de Maria e Gilberto. Quando os vizinhos chegaram para ver o que houve ela tinha deitado o corpo do marido na cama. Em cima dele estava escrito em um bilhete perfumado com a mesma essência de rosas que já não ambientava mais o quarto, “Para você nunca esquecer de nós”.</span></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-31232789048733834002014-12-11T00:21:00.003-02:002014-12-11T00:21:40.836-02:00Aqui não existe saudade<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Era uma vez um vilarejo
onde ninguém sentia saudade. Não se engane ou sinta pena, pois este lugar era
como qualquer outro e não havia graves problemas. Tudo era completamente igual
a todo lugar que você conhece, as pessoas riam, brincavam, comiam, dormiam, se
encontravam e de todo modo, viviam, mas não de um jeito intenso ou como se não
houvesse amanhã, porque em histórias fabuladas ninguém faz isto. Viviam
normalmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando havia graça a
alegria se fazia presente nos lábios e corações, quando esta se ausentava a
tristeza tomava conta e isso apesar de triste não trazia surpresa alguma. No
lugar era comum a hospitalidade e todos recebiam muito bem todo e qualquer forasteiro
que chegasse buscando comida ou abrigo fosse pelo tempo que fosse. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem vinha de fora se
sentia realmente acolhido, pois sempre havia a quem ouvir sobre as antigas
histórias do lugarejo, sobre os costumes locais e sobre as caravanas que
passavam ou sobre o circo que por vezes animava a crianças e anciãos. Porém, se
perguntados quando gostariam que um destes eventos que tiravam todos de suas
rotinas voltasse, diziam:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">— Não sabemos dizer. Se
um dia voltar, tudo bem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O mesmo acontecia com
as pessoas há muitas décadas. Casais que se gostavam conseguiam ficar dias sem
contato, mensagem ou mesmo procura pessoal porque não tinham saudade. Os
comentários nas cidadelas vizinhas era que uma maldição tinha sido jogada naquele
lugar por uma moça de coração partido. Não se sabia ao certo. </span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A certeza era que tudo
acontecia movido mais pela necessidade do que pela vontade saudosa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E todos viveram de
certa forma indiferentes para sempre. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-83938158946037901202014-12-04T00:58:00.002-02:002014-12-04T00:59:32.407-02:00Copas<br />
<div class="MsoNormal" style="clear: left; float: left; line-height: 150%; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A sala é pequena assim
como toda a casa e na falta de mais alguém para que o tempo passe mais rápido,
ela deita as lâminas do baralho uma a uma em ordem decrescente em cima da mesa
onde há somente um cigarro aceso e um cinzeiro como companhias enquanto o
relógio na parede insiste em resmungar um tique-taque incessante. Nenhum dos
três liga para qualquer som externo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pensou em colocar algo
para tocar, porém, a cada carta que a mulher pegava em suas mãos, trazia à tona
alguma lembrança e nenhuma delas seria recordada ou esquecida se outra carta não fosse posta junto as outras. Já
tinham se passado duas horas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS4cLaGtsKD_0UYXYoiAfU68nxKNDYGldunFECTohHIqXiJ_JjneQ" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS4cLaGtsKD_0UYXYoiAfU68nxKNDYGldunFECTohHIqXiJ_JjneQ" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A infância na casa
ampla e ensolarada, o convívio com as irmãs, as brincadeiras de menina e os
aromas e sabores que marcaram a criança que um dia foi, tudo estampado no Ás de Ouro que trouxe consigo a juventude,
os primeiros amores, os tantos desamores, os excessos e descobertas de um Cinco
de Copas que a perturbou, pois as memórias eram muitas e desencontradas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A decadência da
família, antes dona de boa parte dos negócios da cidade, as primeiras
dificuldades financeiras, a separação dos pais, o casamento das irmãs e a
dissolução rápida de seu mundo mostrado em cartas de Espadas como se fosse um
espelho que salienta todas as rugas e marcas de expressão que a mulher nunca
gostou de ver.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Após isso, a vida que
não foi nem boa demais nem insuportavelmente tirana, apenas morna como um café
que se esquece de beber a tempo. Foi acostumando a querer que nada ficasse pior
e que tudo se estabilizasse nas cartas do naipe de Paus. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Levantou da mesa e
abriu a janela que mirava toda a parte baixa da cidade. As luzes começavam a se
acender enquanto a claridade morria suavemente. Ela olhava a vista de dentro de
si e deixava a cidade vê-la na esperança de que algo extraordinário pudesse
acontecer e é nesta hora que a campainha toca e as mesmas malas que um dia
deixaram a sala que ficou vazia, decidiram trazer alguma companhia de volta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Sem oferecer resistência
ou questionamento algum, ela guardou o baralho.</span>Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-83579756217234989462014-08-27T15:58:00.005-03:002014-08-27T15:58:56.717-03:00Na exposição<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ele olha para o quadro na parede e não entende nada, mas olha para sua interlocutora e sorri com um jeito de quem reconhece perfeitamente o que vê mais uma vez com um ar quase entediado. Não queria estar ali, preferia algo com mais música, mais bebida e menos gente</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i> blasé</i></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">. Aceitou o convite para a exposição porque costumava aceitar quase tudo o que vinha de seus amigos. </span></div>
<b id="docs-internal-guid-226dfb4e-18d4-d8e3-d020-c604e35d8b23" style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Não é demais? Toda a expressividade que este artista deu às cores frias e quentes neste quadro, acho que mostra muito bem o que os jovens de nossa época sentem. Toda essa angústia passivo-agressiva…”, dizia sua amiga numa análise que, com toda a certeza, devia ser apenas concordada.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ele não via nada além de alguns rabiscos salpicados em todas as direções, algo que talvez, só talvez, uma criança de cinco anos também faria, ou quem sabe melhor. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Ãhn…. claro! Isso mesmo!”</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Ao invés da resposta que significava tudo, mas não dizia nada, pensava na sua serie preferida do Netflix que estava perdendo. Era uma pena porque não teria tempo de vê-la por bastante tempo. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Vamos até o terraço? Quero pegar um pouco de ar puro.”, Perguntou para ver se conseguia se salvar de mais avaliações cheias de significado.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A amiga aceitou o convite, mas antes conversou com muitos conhecidos que a pararam no meio do caminho para dizer olá ou simplesmente pedir suas opiniões e conselhos sobre outras exposições que valiam a pena na cidade. Ele não sabia até o momento como ela era influente naquele meio apesar de não pintar coisa alguma.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Enfim no terraço puderam conversar em paz e ele pôde ver as luzes da cidade longe dos quadros e de todos os entendidos, pintores, artistas e pseudo-críticos.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Nossa… Tudo isso dá pra ver só neste quadro?”</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">“Claro! Não é óbvio? Se não tá vendo isso, você tem problemas”.</span></div>
<br />Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-74556303514901278372014-06-08T15:25:00.001-03:002014-06-08T15:25:42.029-03:00Luz Negra<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Com licença! Com licença! ....! ....!!”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Conforme os passos iam aumentando, ia me dando conta que não
era necessário e nem adiantava pedir licença para conseguir mais espaço. Àquela
hora e naquelas circunstâncias a polidez é irrelevante. Melhor deixa-la pra
segunda-feira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O ar é rarefeito, mas só prestei atenção nisso agora porque é
certo que tem mais gente do que quando entrei. Ao simples toque de alguns
botões de computador o lugar todo parece entrar em transe, os motivos para esse
transe acontecer não são os mesmos: diversão, tédio, álcool, libertação,
carência, mais fotos no Facebook. Tudo pode ser um motivo e um gatilho a mais
para a melodia cortar feito navalha os ouvidos e a noção de todos os que estão
na pista e fazê-los esquecer de tudo e de todos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O volume aumenta, o álcool também e de um instante para o
outro me imagino dentro de um lugar ainda mais escuro com clareiras espaçadas e
nesta escuridão o brilho dos olhos de todos me observam e se observam entre si.
É uma caçada e as regras do jogo não estão muito claras. O que importa então
é decidir como reagir a tudo o que acontece a minha volta. As luzes brilham
caleidoscópicas e atordoam qualquer tipo de reação que mencione a saída dali.
Todos dançam, riem, falam alto, tiram fotos que vão precisar de edição no outro
dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A única coisa que consigo pensar em meio a todo o barulho é
que as coisas que são feitas dentro de lugares onde as luzes piscam fortes, mas
não nos transcendem, onde a música é alta, mas não nos desperta e nem inspira,
só tem como ser feitas à noite, pois a noite liberta tudo o que o dia, com seu
ar sério e trabalhador, não concebe de ser liberto.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-78224775653483935172014-04-07T23:49:00.001-03:002014-04-07T23:49:13.491-03:00Epifania<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Me deparei com a minha
consciência, hoje às seis e quinze. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ela assim como veio, foi:
apressada como todos os outros que fluíam pelas ruas em direção (ou na direção
contrária) de suas vidas. Apesar de não tê-la visto, ela me viu e atravessou a
rua após me achar meio sem rumo, num passo automatizado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Senti a estranheza do
entardecer abafado e, ao mesmo tempo, aliviante e claustrofóbico. Imediatamente
notei que faltava algo ao redor: O perfume que rodeia os dias. Por onde será
que anda? Que ventos o levaram? Quantas balsas serão necessárias até que ele
possa ser encontrado outra vez?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pensei então que o aroma da
vida pode ser somente uma questão de visão.<o:p></o:p></span></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-60929608802242794622014-01-23T01:29:00.000-02:002014-01-23T01:34:48.098-02:00Para a amiga<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Qual a valia de cobrir o amor com o
véu da amizade se mesmo e na verdade se está é jogando água dentro do rio?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Ser direta, forte, imóvel como
pedra cravada no campo não é mais do que deixar de ver toda a paisagem que há
no distante. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Amiga, não há jogo jogado, dança já
dançada ou frase já dita. Qualquer destas artes é feita da ferida, do riso
e do silêncio. Tudo sem improviso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Não decrete assim por decretar o
que é e o que não, pois o caminho nos torna cegos do brilho e da ilusão do que
um dia foi estrela e tal como o brilho delas, existe só num tempo que passou. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Amiga, me dê a tua mão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Amiga, seja amiga, bendita,
maldita, espera aflita que acaba num sorriso claro como a folha que te clama. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-90710893994575646912014-01-13T02:55:00.000-02:002014-01-13T02:55:25.770-02:00Obsessão<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;">Tenho uma obsessão. E quem não?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Mania de querer<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Querer ter pensamentos geniais <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
O tempo todo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Mas, calma, essa mania não é sempre
que acontece. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Só quando me desce algo não sei de
onde e que faz eu não desgrudar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Da tinta que valseia na folha que
abre os braços e me recebe. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
De linhas abertas.<o:p></o:p></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-65307610654943054052014-01-07T00:19:00.001-02:002014-01-07T00:19:09.832-02:00Ao mar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKLWOO2mIvLvYWaD5OrK4xPE_cyzn1GV7YcU_WWQBihUxaC3hgo7-u9oiMaVQkLcr-joHCmT4e19C3zlEdeQ78nLbWFlYXJKoYbdvpLKoO4W2YMM_d3M89V8XlUWHI9R7hWxEZsOvnExuY/s1600/garrafa+ao+mar1+(1).JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKLWOO2mIvLvYWaD5OrK4xPE_cyzn1GV7YcU_WWQBihUxaC3hgo7-u9oiMaVQkLcr-joHCmT4e19C3zlEdeQ78nLbWFlYXJKoYbdvpLKoO4W2YMM_d3M89V8XlUWHI9R7hWxEZsOvnExuY/s1600/garrafa+ao+mar1+(1).JPG" height="177" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;">O vento que bate agita sua roupa e
seus cabelos. Aquela noite por algum motivo parecia bem mais longa que todas as
outras que tinha vivido e sobrevivido e apesar de tudo o que havia passado nada
ainda era suficiente. Tudo parecia ser tão cedo mesmo que o tempo não
importasse. O caminho até o cais era longo e sinuoso, cheio de curvas e golpes
de vista, graças a bebedeira que o abraçou forte durante toda a madrugada, ele retribuía
da mesma maneira o abraço carregando uma garrafa quase vazia debaixo do braço.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
E a dança era lenta, os passos, em
falso e o barulho intermitente dos carros passando em cada rua que atravessava
e não notava nada. Ele confiava no senso comum que diz que o divino cuida
melhor de quem não está sóbrio. Pelo menos é o que ele pensa ou pensa que pensa
nisso toda vez que bebe. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
O cheiro de mar misturado ao de
suas roupas que rescendiam não a álcool em si, mas a cigarro e a noite, pois a
noite possui um perfume inebriantemente forte que é notado por todos aqueles que
nos olham depois de três madrugadas seguidas: como se ela não quisesse que você
fosse de mais ninguém porque ao contrário do dia, a noite é mulher de olhos
penetrantes, de cabelos escuros, vestidos provocantes e ciúme eterno de quem a
procura nem que seja por uma vez. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Depois de algumas esquinas, de
muitos cruzamentos e de esvaziar a garrafa que trazia consigo, ele enfim chegou
ao cais puxou do bolso do casaco um guardanapo amassado, uma caneta, se apoiou
no parapeito que separa a terra do mar aberto e correu o traço em versos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<i>Não
te conheço e às vezes não sei se quero ou se necessito conhecer e reconhecer
teu rosto.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<i>Não
sei falar de amor, não vou a Copacabana, não gosto de salsa, o tempero. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<i>Por
mais ridículo que seja, sei que você vai achar esta garrafa com este meu
bilhete. Só te peço um favor: não se faça de rogada, venha ao meu encontro. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Colocou o bilhete dentro da garrafa
vazia e a arremessou com toda a força para dentro da água. Virou de costas e
foi mais uma vez para os braços de quem lhe queria como posse.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-86744009329816792062014-01-05T01:22:00.000-02:002014-01-05T01:22:06.325-02:00O dia da traça<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj85i7DEuk3DZbYBTyraXkLjF06x3UZ3Iu_G_ceD88msfQwIWygdFl6rTfFhPlaFElhfHPjF5BR6GsC0m9H-G9c681Qx2kjYiRbG9DjdKL1QXiliN0aglqt1UAznYHYqoWqthbtD2_AUXll/s1600/library_by_vladstudio-d5mfjau+(2).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj85i7DEuk3DZbYBTyraXkLjF06x3UZ3Iu_G_ceD88msfQwIWygdFl6rTfFhPlaFElhfHPjF5BR6GsC0m9H-G9c681Qx2kjYiRbG9DjdKL1QXiliN0aglqt1UAznYHYqoWqthbtD2_AUXll/s400/library_by_vladstudio-d5mfjau+(2).jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;">“Daqui não irás passar!”, falou com
toda pompa e sequidão um guarda de lança em punho e armadura vestida, a ele não
dei ouvidos e adentrei o lugar com o foco de um caçador e com agilidade tal
bicho veloz das savanas do tão perto e tão longe continente africano. Eu sabia
o que queria naquele momento. Logo que dentro do lugar, amplo e imponente, fui
convidado a sentar à mesa com dois homens que bebiam </span><i style="line-height: 150%;">Whisky.</i><span style="line-height: 150%;"> Segundo um deles ao erguer-me seu copo, “Bebida não é algo feito
pela mão do homem, mas pelos instrumentos misteriosos e eficazes do tempo”.
Decidi não beber, me pareceu pouco apropriado misturar as minhas horas de busca
com álcool.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Me embrenhei por entre os imensos
corredores e deles vinham sussurros, música, cantos, dança, passos, diálogos,
brigas, gritos e tudo foi ficando ensurdecedor demais para se prestar atenção
onde se podia pisar e quase viro cativo da música de um flautista, mas segui.
Tiros de canhão, soar de sinos, risadas, lamentos, o perfume da guerra e o odor
da paixão, tudo ao alcance da mão. Por fim, consegui os volumes que queria
dentre as variadas formas, tamanhos, capas, títulos e estórias colocadas
naquelas estantes que pareciam mais vivas até do que eu mesmo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Mais alguma coisa, senhor?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Vocês tem marca-página?”, era o
que eu devia ter perguntado, mas sempre esqueço. <o:p></o:p></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-47429998647586403642014-01-03T05:22:00.003-02:002014-01-03T05:27:35.045-02:00Luzindo <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvJBv_2SSCnL0utdSgGpbQrhNy6cLt8K-GsrZEvWv8oqlrucS4XO_JS0SYnqWnPJQwymiQyAYwXua6TDFRQG4Y0qhHxeLIwPNvyX9PZ-WueKJv07q0_ZpU-jeidbEhQtUTSia9Z76DQmx4/s1600/encruzilhada_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvJBv_2SSCnL0utdSgGpbQrhNy6cLt8K-GsrZEvWv8oqlrucS4XO_JS0SYnqWnPJQwymiQyAYwXua6TDFRQG4Y0qhHxeLIwPNvyX9PZ-WueKJv07q0_ZpU-jeidbEhQtUTSia9Z76DQmx4/s400/encruzilhada_1.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;">O fogo e o pavio viram uma chama
que aos poucos vai crescendo e apontando para o céu. Criam uma ponte que
ninguém vê, mas que se torna tátil por algo que também não se explica direito,
que está ali e sempre esteve. É disso que é feito esse momento para o homem que
vem de longe e que é humilde, para a madame que veio diretamente da aula de
Pilates, para a criança que não sabe direito porque vem, mas que sabe que
depois disso tudo vai ter doce e bolo na confeitaria da esquina. Cada um acende
a chama para o que quer, cada um persiste nela para o que precisa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Enquanto isso é noite escura no
centro do infinito, mas não aquele tipo de escuridão que assusta, mas uma
escuridão feita de um negro que cobre tudo como um manto e que traz a prata da lua
cheia estampada em si. Nas ruas deste lugar não é necessário que haja asfalto,
pois não existem carros nem outros tipos de automóveis somente passagens que se
entrelaçam para a travessia dos que vivem neste lugar. Um homem de vestes
escuras, de uma elegância antiga e olhar fixo no horizonte está à espera de
algo enquanto dá baforadas num cigarro. Tudo é silencio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
O campo é repleto de árvores
frutíferas, pássaros cantam alegremente a todo instante e a água corre límpida
e graciosa no riacho que vai em direção ao sul de Todos os Lugares. Sentado em
uma pedra que o deixava ligeiramente mais alto que os animais que vinham vê-lo
atraídos pelo som, um menino de cabelos cor de cobre, braceletes de ouro e pele
muito alva tocava delicadamente uma flauta também dourada. Ele parecia não se
importar com o que acontecia a sua volta, somente a música que compunha sem
nenhum planejamento ou preocupação. Tudo é inspiração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
E então a chama que apontava para o
céu invade tudo e tudo é luz, tudo é calor. O homem de escuro ainda com olhos
fixos no horizonte, ri. O menino tocador, faz mais e mais floreios em sua
música.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Tudo é luz.<o:p></o:p></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-31544414613950733882013-12-31T04:06:00.001-02:002013-12-31T04:08:18.646-02:00Adão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW8LmcGTz-HUuT5WDLF6FvTVjkWtgQ-7R0NXwXvAaj_PUswl-iMPeDr3tLCxzBEvV2nUBhCud5IhHgK6H_3b_ehBBBWSIQ9WMxVKLkzIecVvgMqjoIw2uTsDSYzkxzl-fvQgHWEIFBDuXG/s1600/6131cf41c14bcb3d6a710e2ac025964b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW8LmcGTz-HUuT5WDLF6FvTVjkWtgQ-7R0NXwXvAaj_PUswl-iMPeDr3tLCxzBEvV2nUBhCud5IhHgK6H_3b_ehBBBWSIQ9WMxVKLkzIecVvgMqjoIw2uTsDSYzkxzl-fvQgHWEIFBDuXG/s320/6131cf41c14bcb3d6a710e2ac025964b.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="line-height: 150%;">A certeza de um dia sem surpresas foi
o que motivou Lúcio a levantar da cama naquela sexta-feira, afinal, faltava só
mais um dia para o final da semana e tudo estava planejado para que o sábado e
o domingo fossem intensos (que o diga o número de telefone dentro do bolso de
seu casaco). De súbito percorreu o percurso Chuveiro-Toalha-Cafeteira-Café-Pão-Geleia-Bolsa-Chave
da casa-Porta-Portão-Rua, com um vigor digno de um atleta que corre a São
Silvestre. Encarou sem nenhum contragosto a parada de ônibus e os 20 minutos
que levaram para o coletivo aparecer. Entrou e logo conseguiu um assento ao lado
de um senhor. Camisa social branca, calça de linho, talvez trabalhasse no
comércio ou fosse algum tipo de pastor.</span><br />
<span style="line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Desculpa, senhor, tem horas?”,
perguntou timidamente o rapaz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“São quinze para as oito, menino. E
pode me chamar de Adão.”, disse o homem. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Ele ainda estava no horário. Aquele
dia seria bom, o trabalho passaria rápido e logo ele estaria sentado em algum
bar, tomando um chopp e talvez conseguindo levar a dona do número de telefone (aquele
do bolso do casaco) para casa ou para mais um encontro. Nosso Don Juan era
daqueles caras trabalhadores, dos muitos que existem por aí. Tinha um emprego
modesto, mas conseguia pagar as suas contas e ainda economizar um pouco para os
tempos “imprevisíveis” como ele mesmo gostava de classificar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Lúcio empilhava títulos de
Empregado do Mês na<i> Farmácia Central</i>, a mais conhecida de sua cidade. Começou a
jornada empolgado. “Bom dia, meu rapaz.”, disse um senhor já de bastante idade
e de voz frágil, “Eu preciso daqueles remédios para gripe, sabe? Tem feito
muitas friagens nesses dias, nóssinhora!”<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Eu tenho aqui cápsulas de<i>
Resfedina.</i> Elas são muito boas para prevenir esses resfriados. O senhor vai
querer estas? Sim, elas são baratas. São 2 reais a cartela com quatro cápsulas.
Ok, então, eu só preciso saber o seu nome para colocar aqui no pedido.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Meu nome é Adão de Souza.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Lúcio fez uma expressão de estranhamento.
Já era a segunda vez em menos de uma hora e meia que ele interagia com duas
pessoas que tinham o mesmo nome. Quais eram as chances daquilo acontecer? E
quantas pessoas estariam passando pela mesma coisa ou já tiveram passado por
aquilo. O atendente logo esqueceu do ocorrido, pois o fluxo de clientes na
farmácia estava intenso naquela manhã. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Saindo do trabalho ao final da
tarde caminhando pela calçada, ele passou por um policial militar. O agente
passou tão perto dele que foi possível notar a sua identificação: “Adão”,
estava escrito. Aquilo estava esquisito, mas pior era o frio que fazia naquela
tarde-noite, então Lúcio resolveu passar numa lancheria e pegar um café para a
viagem e esquentar o corpo e o coração porque a hora da ligação que ele deveria
fazer estava chegando e com ela a expectativa do encontro de logo mais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Ele abre a porta da lancheria,
modesta com bancos altos virados para um balcão antigo cheio de salgados
parecidos com aqueles que a vó de qualquer um faria a qualquer hora. O ambiente
cheira a fritura e a pó de café. Uma cafeteira gigante solta fumaça como um
dragão de filmes onde dragões aparecem e fazem coisas que dragões fazem. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Um café.”, pede Lúcio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Com leite?”, pergunta o
balconista.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Puro, por favor.” <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Ainda com aquelas coincidências na
cabeça, Lúcio resolveu perguntar o nome do homem que servia o seu café. E para
a sua surpresa também era Adão. Foi a gota d’água.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Com licença, senhor”, se dirigiu a
um homem que devorava um croquete sentado em uma mesa, “Como você se chama?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Que pergunta, meu! Me deixa comer!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Por favor, só me diz o seu nome e
eu não lhe incomodo mais”, insistiu Lúcio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Meu nome é Adão, cara. Agora posso
terminar de comer?”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Intrigado, resolveu perguntar em
voz alta se mais alguém ali tinha o mesmo nome, que levantasse a mão, Todos os
homens que estavam comprando, comendo ou simplesmente passando o tempo
levantaram as mãos. Esqueceu do café e do frio correndo em direção à rua e
indagando todos os homens que passavam pelo seu caminho sobre seus nomes e para
o seu estranhamento total as respostas não variavam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Até que um Adão resolveu estender a
conversa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Você é maluco, rapaz? Sair por aí
perguntando o nome de todo mundo. Você não parece alguém que deva ser
internado.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Isso é brincadeira. Deve ter
havido algum engano, sei lá. Uma cidade toda não pode ter o mesmo nome. É
impossível. Você tá entendendo?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Ah, é? Então qual é o TEU nome?”,
disse o interlocutor de Lúcio num tom incisivo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Lúcio. O meu nome é Lúcio.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Hahahahaha. ISSO é brincadeira.
Você realmente tem problemas, garoto. Vai procurar um médico.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
Lúcio foi ao encontro, teve algum
sucesso com a dona do telefone. Ela realmente estava afim daquela noite e de
mais alguns encontros, foram mais três. No quarto encontro, a menina botou as
cartas na mesa (já se sentia confortável para falar de coisas mais sérias).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Olha...Lúcio... você é um cara
muito legal e eu gosto de ficar contigo, mas tem uma coisa que me incomoda um
pouco...”. A moça estava hesitante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“O que? Fala. Vamos resolver já.
Assim não temos tempo dessas coisas virarem piração.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“É sobre o teu nome. Pronto, falei.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Hã??”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Sim. O teu nome... Não curto o teu
nome, mas isso não quer dizer que eu não goste de você. Só vou ter que
acostumar com ele.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Sério? Mas esse é o meu nome. Eu
não posso trocar!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
“Eu sei. Mas existem nomes
melhores. Ó, Adão, por exemplo. Eu acho um nome lindo.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
O mundo estava de cabeça para baixo
e não havia mais jeito de voltar ao normal. Lúcio foi ao cartório e virou “Lúcio
Adão dos Santos.”<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-54727042861098689822013-12-24T23:08:00.002-02:002013-12-24T23:12:49.986-02:00O Espírito do Natal passado<div class="MsoNormal">
A época natalina sempre deixou Denilson tocado. Era coisa que
o acompanhava desde criança, para ele, era mais do que especial ter a casa
cheia de gente, a árvore repleta de presentes, estar perto de seus familiares e
que todos estivessem alegres e ali para comer, beber e sorrir. Ele adorava
comprar presentes, encher a casa de luzes e fazia questão de cuidar junto com a
esposa de todos os preparativos da grande noite.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Dezembro chegou e com ele a proximidade dos dias mais
importantes para o bancário que mais investia em Natal dentro de toda a rede do
Banco Regional. Para alguns já era até piada, mas Denilson não se importava e
ante as pilhérias dos amigos trazia para o trabalho um mini pinheiro e o posicionava
em sua mesa para que todos pudessem ver.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uma noite, após terminar a instalação das luzes na frente de
sua casa, Natalino (sim, esse já era o seu apelido de longa data), foi dormir antes
de sua mulher. Ele estava satisfeito porque seus projetos estavam dando certo
mais um vez. Assim que desligou o interruptor de luz Denilson deu um pulo da
cama quando viu um clarão se formar em frente a sua cama.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicpsjjfOrZluYAXKSqhtKNNCgAKBUS5XATDO47ILjCV9nQXOe0oCpOUJ2T1xlq-9BvwooUfoq3dPGcue_IpMvCrui7S_2TDfXLRQO3gvITBWehEbW3s_LQHe5lSOE29B5vdBdHU0B1aLLV/s1600/cantata_natal.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicpsjjfOrZluYAXKSqhtKNNCgAKBUS5XATDO47ILjCV9nQXOe0oCpOUJ2T1xlq-9BvwooUfoq3dPGcue_IpMvCrui7S_2TDfXLRQO3gvITBWehEbW3s_LQHe5lSOE29B5vdBdHU0B1aLLV/s320/cantata_natal.jpg" width="320" /></a></div>
“Denilson! Preciso falar contigo, cara!”</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“......e-e-eu-c-como assim?! Quem é você??”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Ah não! Toda vez as mesmas perguntas! Vocês não conseguem
inventar outro tipo de resposta sem que seja perguntando de volta? Ok. Eu tenho
muitos nomes, mas agora me chama de Mitra. Digamos que é o meu nome da semana.
Se nunca ouviu falar de mim procura no Google ou YouTube, tem um pessoal que me
acha bem popular lá. Tem gente que até acredita que um outro cara que nasceu no
mesmo dia que eu sou eu. Mas também acham que ele não era cabeludo, não era
branco e não era uma pessoa legal. Nossa! Cansa só de ouvir toda essa
contradição! Hahaha”</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Denilson, mal conseguia enxergar porque o brilho em volta de
Mitra era muito forte, mas pior era o sentimento de atordoamento e
incredulidade. O que afinal de contas estaria acontecendo e o que aquela coisa
queria?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Não me machuca! Meu Deus, me salva!”, gritou ele num estado
quase desesperador.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Calma, Denilson... Calma, meu!! Caaaaalmaaaa!”, gritou de
volta o jovem de cabelos dourados e roupa que se assemelhava a de um soldado
romano. “Eu vim aqui pra te pedir um favor. Eu só posso pedir um favor por ano
a alguém, não me faz ter perdido um ano inteiro, meu querido! Respira, ok? "<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“O que você quer?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Quero que você me ajude a recolocar o festival em honra a
mim (apontando para si com os polegares) na data certa mais um vez. O que seria
daqui a dois dias (25 de dezembro). Em troca, você ganha um flat no Monte Hara,
que é o equivalente a um Alphaville nos céus, por toda a eternidade. Você tem
um ano pra recolocar isso nos eixos. Já perdi muito tempo e ando perdendo
popularidade. Fora da internet ninguém mais me conhece. Meu, eu sou o sol do
mundo novo. Trago luz pra essa joça e como assim viro um zé?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Enquanto a aparição falava, Denilson tentava lembrar de
todas as orações possíveis. Faltava memória. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
“Eu nunca ouvi falar de você, Seu Mirra.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Aff... Mitra.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Isso. E Natal é outra coisa. É o nascimento de Cristo. Todo
o mundo sabe disso.”, protestou o bancário.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Eu sei, eu sei que eu demorei um pouco aí pra realmente
tomar uma atitude, digamos, efetiva, mas agora eu tô aqui pronto para virar
este jogo e retomar o que é meu por direito. É a minha data, Denilson. Imagina
só, se alguém roubasse o teu aniversário, tipo, pra sempre. Tu ia gostar?
Hein?... Claro que não.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“E como eu faria isso?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Tenho alguns planos para melhorar a minha imagem. Primeiro:
ninguém compra mais presente. Sem troca de presente. Eu tenho uma equipe que fez
uma pesquisa e cheguei a conclusão que isso não condiz muito com a minha
imagem. Talvez uma troca de insenso, de uns tecidos bonitos e mais nada. Outra
coisa, que eu gostei e a gente pode manter é a coisa das luzes. Gosto disso e
tem a ver comigo. Luzes nas casas, nas ruas, luzes pra sempre!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Você tá de brincadeira. Só pode...”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Não, Denilson. Eu só estou aqui jogando ideias. É um Brainstorm.
Fica bem à vontade para dar as tuas sugestões. Estive pensando num nome, uma
coisa mais moderna e que, é claro, remeta à minha pessoa: Mitral. Aí as pessoas
se desejariam ‘Feliz Mitral’. E aí? Você tá muito calado, cara! Me ajuda aqui,
por favor!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De repente, a luz do quarto acendeu e assim que Elisângela
apareceu na porta Denilson correu assustado para fora do quarto, da casa e
ganhou a rua para tomar fôlego. A mulher conseguiu alcança-lo, intrigada e sem
entender nada.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“O que houve, homem do céu?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Acho que ando exagerando no Natal, amor.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Compraram passagens e embarcaram para o nordeste no outro
dia. Deixando todos os convidados desapontados sem a grande festa de Natalino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Feliz Mitral. Feliz Natal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-91612874936355351592013-12-23T03:03:00.004-02:002013-12-23T03:07:50.188-02:00Lap Dance<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<object class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="http://img.youtube.com/vi/_qkrhx9pULY/0.jpg" height="266" style="clear: left; float: left;" width="320"><param name="movie" value="http://youtube.googleapis.com/v/_qkrhx9pULY&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><param name="allowFullScreen" value="true" /><embed width="320" height="266" src="http://youtube.googleapis.com/v/_qkrhx9pULY&source=uds" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true"></embed></object></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
A música é lenta, convidativa. Depois
de um dia duro e de um mês de noites frias resolvo fazer algo novo e diferente que
aqueça o coração e solte a mente junto a um gole a mais de qualquer coisa.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sendo assim, existe coisa melhor que ir em busca de um amor
maquiado? De alugar uma atenção qualquer? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O lugar foi escolhido aleatoriamente. A única preocupação
era achar um lugar que eu pudesse entrar e sair vivo. Eu sabia o que queria:
uma dança e uma bebida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Obviamente nenhum destes estabelecimentos “de entretenimento
interpessoal” são de fácil acesso, mas resolvi correr o risco. Saí do
escritório mais tarde, desliguei o celular para que ninguém resolvesse me
contatar àquela hora, nem mesmo a minha tia lá de Governador Valadares pudesse
ter uma vontade estarrecedora de falar comigo e conseguir. Hoje não.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A decisão de para onde ir até que foi bem fácil. Uns trinta
minutos de uma pesquisa rasa na internet me deu todas as informações que
precisava. No verso do cartão de um cliente um endereço anotado e um nome <i>Heaven Club. </i>O nome me soava pouco
ordinário, mas não no sentido de comum, mas de ordinário mesmo, pouco
condizente com o lugar. Eu era um cliente desconfiado com o serviço que me
seria oferecido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI3SnKkCwqvQeUIzmRH24XiHaoOaMH_U809JzHAzZGiERSVBgIo129-oa_aivtHyV18U-u8lwGfRSuzljuVJYX8GKkrZ4XRyfpMnqS5JpCwDbznkQOPXYw3FK9bVf14BloabR_W_0XsGpF/s1600/girls.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI3SnKkCwqvQeUIzmRH24XiHaoOaMH_U809JzHAzZGiERSVBgIo129-oa_aivtHyV18U-u8lwGfRSuzljuVJYX8GKkrZ4XRyfpMnqS5JpCwDbznkQOPXYw3FK9bVf14BloabR_W_0XsGpF/s1600/girls.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eis que estaciono o carro em uma rua transversal a do lugar,
por motivos de pura lógica. Tirei relógio, corrente, aliança e deixei tudo
dentro do porta-luvas. Saí do carro como se fosse um adolescente outra vez. Um
homem de meia-idade, de terno e gravata escuros que deixava o rosa do neon do
letreiro na parede fazer com que ele parecesse ainda mais misterioso, quase
assustador, era quem cuidava da entrada.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ele me balbuciou um boa noite e liberou a entrada da porta para
que eu pudesse entrar. Não queria bancar o novato, empurrei a porta, ela dava
num corredor longo e escuro só se via com nitidez a marca circular de luz
moderada de dentro do salão. Abri a segunda porta com um ar decidido e dei de
cara com um balcão e uma senhora, sim, uma senhora dos seus sessenta anos, mas em
roupas um tanto ousadas. Ela logo foi me perguntando o que ia ser.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Fiquei meio sem ação, pois não esperava aquela sexagenária
ali logo de cara. Ela repetiu a pergunta com muito menos paciência. Disse que
queria uma bebida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Só a bebida?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Quanto é a dança?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Depende do que você vai querer.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Como assim?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“A mais barata é sem contato algum, já a com contato é o
dobro do preço: é R$ 100.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Já que estava ali mesmo era melhor pedir o pacote completo.
Seria só aquele dia mesmo, que fosse memorável. Ela me deu um cartão com um
número, era o número da sala para onde eu deveria ir porque as salas de <i>Lap Dance</i> (era o que estava escrito no
cartão) ficavam no fundo do clube.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Entrei na sala 6, era o que o cartão indicava. A sala
rescendia a óleo de massagem e cigarro. A luz era ainda mais fraca que a do
salão onde homens tinham conversas ao pé do ouvido ou dançavam de rosto colado
com mulheres muito animadas e descontraídas que bebiam grandes quantidades de
tudo o que se possa imaginar e talvez por isso eram animadas. O álcool faz
dessas coisas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sentei na única cadeira que havia, afrouxei o nó da gravata
e fiquei esperando o grande momento, até que uma música lenta e convidativa
começou a tocar e não sei de onde surgiu uma morena de cabelos presos e com uma
máscara que lhe cobria a região dos olhos. Ela tinha belos olhos e uma lingerie
preta indefectível, com direito a cinta-liga e tudo mais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A dança começou lenta, como a música e a uma distância
segura. Abri o primeiro botão da camisa. Eu estava com calor, resolvi beber num
gole só a cerveja que ainda restava na garrafa que havia levado para aquele
espetáculo. Tinha valido cada centavo, com certeza. De repente, ela foi se
aproximando, jogando os quadris para um lado e para o outro e virando de costas
para que eu pudesse ver tudo, sem cortes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Foi então que ela montou em mim e no ritmo da música, que já
nem sabia se estava no mio ou no fim, foi afrouxando os cordões da máscara,
lentamente... e foi aí que eu gelei, meu caro!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando ela tirou a máscara eu perdi o fôlego.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Oi, amor... Nem avisou que ia chegar tarde em casa... Eu
tinha pedido para você passar na lavandeira e pegar o vestido da mamãe!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É por isso que eu estou aqui, doutor, para encaminhar os
papeis. Quero o divórcio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-64812342207608282222013-12-22T02:58:00.001-02:002013-12-22T03:10:04.733-02:00Nove horas<div class="MsoNormal">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/Lhv8661gkhY?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe><br />
<br />
O sol das nove horas da manhã ilumina o quarto deixando tudo
num tom de âmbar. A brisa sacode as cortinas que impedem de voar as folhas que estão
espalhadas no criado-mudo. Foi uma longa noite, mas não daquelas em que
o espírito cansa de pensar ou calcular mirabolâncias. Não. Foi simplesmente uma noite a mais. Daquelas
em que tudo se mistura, se revela, se apaga e desaparece como se a vida fosse
um capítulo confuso e desconexo de um livro mal escrito, mas nem isso importa.
Já amanheceu. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Desta vez não adormeci. Ainda estou sentado frente à
escrivaninha, com os pés em cima desta. Ao fundo toca uma música que não
consigo identificar, parece jazz ou será blues? Nunca sei diferenciar direito.
Sinto tuas mãos correrem lentas e delicadas pelos meus ombros em direção a meu
peito: início de um abraço ou de qualquer coisa a mais... É um bom começo para
o próximo capítulo, melhor anotar logo antes que a memória me traia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vejo os lençóis de minha cama. Estão intactos. Antes não
estivessem. Estão assim porque o tempo é outro o fuso horário também. Quartos
de hotel são irritantemente impessoais e me irritam profundamente porque não me
lembram nada em especial, só que não tenho nada pelo que esperar a não ser o
telefonema da chefia designando as próximas coordenadas. Enquanto isso ainda
espero.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Olho de novo para a janela e sinto fome. Ponho meias, calço
sapatos, calças e uma camiseta qualquer. Desço as escadas e conforme o vento
que se forma pelo simples movimento que exerço bate mais e mais forte contra
meu rosto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Quer um milho verde?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É a pergunta que sempre ouço e que sempre tenho certa
satisfação em responder: “Não”. Eu nunca fui de muitos vegetais mesmo, mas
também gostava de ver a cara de “desisto” dela toda vez que ouvia eu dizer esse
não. A expressão dela contra a luz do sol do verão é inspiradora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ela sempre perguntava outra vez...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ao chegar nos degraus finais da escada, vejo as mesas com o
café servido. A variedade é boa, mas hoje acordei (pra vida) com vontade de
comer mamão e mais nada. Ok, talvez um pouco de açúcar em cima, para melhorar o
paladar, mesmo porque não precisamos ser tão rigorosos nesta coisa toda de
frutas! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Entre uma colherada e outra sinto tocar o meu celular. São
eles.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Como vai o nosso homem mais eficiente?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Aproveitando a oportunidade desta vista aqui. Diga...”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Queremos isso aí entregue até amanhã, ok?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Entendido, senhor.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De volta ao quarto, começo a organizar meus instrumentos de
trabalho. Se eles falassem teriam muita história para contar. Um a um, os
posiciono sobre a mesa me certificando de que nenhum deles seja esquecido. São
parte importante do meu trabalho, as vezes penso que têm importância maior do
que eu mesmo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Desliza pelas cortinas uma brisa leve com cheiro de verão.
Junto a ela um perfume que me lembra de muita coisa. Um perfume adocicado, que
me lembra o cheiro dela e, não a deixe ouvir, de todas as outras que passaram e
que por um motivo ou outro não puderam ou não quiseram ficar. Aquilo me
embriagou por alguns instantes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Era hora de voltar a escrever. Não daria para deixar o
momento passar. Às vezes me sinto como um surfista. Há de se esperar e esperar
até chegar a onda perfeita e nela conseguir mostrar o melhor de sua habilidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Usar “Era uma vez” é cliché demais, talvez se usar “Um dia
me contaram que...” seria melhor..<o:p></o:p></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-74749664018747871832013-12-22T02:23:00.002-02:002013-12-22T02:23:33.252-02:00Porta-retratos<div class="MsoNormal">
Quantas árvores sangraram, morreram e renasceram aqui?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quantos incontáveis grãos, talvez da areia que viajou muito
mais milhas do que eu posso imaginar, se uniram pra formar esse vidro
que protege a mim agora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu olhando pro nada, com olhar bobo e sorriso alegre que não
muda mesmo que algo totalmente do avesso aconteça. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu vou continuar ali, imóvel, feliz. Pois um dia num tempo
já remoto me fizeste sorrir, olhar com orgulho pr'aquela lente que fria apenas
capturou o que via. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não há mais porque. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sem mais nem porque.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tua beleza ficou registrada naquele pedaço de papel. Junto a
minha mocidade, que já vai longe. Junto a minha ingenuidade, já morta. Junto a
minha felicidade, já torta. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Desentorta. Ajeita na parede nosso quadro e no criado-mudo o
mais belo porta-retrato de outrora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Deixa aí.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnWkTtCNfmusD04Jo48Lm7hSvQ_VlcpzJ5E9f9FTS6H_9QY-KmgLGmngXKRcKKZBU8bgL8ZlSSaq4M6hm9Y-is1qKhtqv-chI0CwOIQGhE7OcVNXHhvAX6UE65otPQt1pzlCxB0-1aHzvc/s1600/porta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnWkTtCNfmusD04Jo48Lm7hSvQ_VlcpzJ5E9f9FTS6H_9QY-KmgLGmngXKRcKKZBU8bgL8ZlSSaq4M6hm9Y-is1qKhtqv-chI0CwOIQGhE7OcVNXHhvAX6UE65otPQt1pzlCxB0-1aHzvc/s320/porta.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-72162431248374287232013-12-22T02:18:00.001-02:002013-12-22T02:18:18.502-02:00Vórtice<div class="MsoNormal">
“Eu não acredito!! Coisa boa te ver de novo! Vem cá, me dá
um abraço!” Meu estômago embrulha, dá voltas. Nem a maior montanha-russa na
qual eu já estive fez algo semelhante comigo...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUAfbgXSl4-Lb2TzoiRRjDs5KaBMUwmpFL5IM5XjZgqxBXkm2EcQekgiOmPnhA4-54Nj9XdMiWRlvno681K1m0Gscpie5Xk0zz3Y3Hnpl-McOnyjbmtEGPlsV3VNVyW-yNtHxT5VuI563Z/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUAfbgXSl4-Lb2TzoiRRjDs5KaBMUwmpFL5IM5XjZgqxBXkm2EcQekgiOmPnhA4-54Nj9XdMiWRlvno681K1m0Gscpie5Xk0zz3Y3Hnpl-McOnyjbmtEGPlsV3VNVyW-yNtHxT5VuI563Z/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A porta se abre. Vejo uma casa a qual não conheço e tudo o
que está dentro dela não me pertence. Causa-me certo estranhamento pisar nesse
chão e é como se tivesse entrado num vórtice que me sugou e me deixou sem as
memórias de quando e como acabei nessa situação. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nada me agrada. De repente, um rapaz novo de roupas em tons
escuros me aponta para uma mesa de jantar com uma toalha simples, mas bem
ornada, dentro de uma sala de jantar não muito grande. Ele me pergunta se eu
sei o porquê de aquela toalha estar ali daquela maneira, respondo que não faço
ideia. Então ele me diz algo sobre o esoterismo, portais e outras coisas
cósmicas. Penso em quanto tempo eu não vou à igreja, depois constato que nunca
fui muito de igrejas ou lugares sagrados mesmo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Após a pequena lição ele me acompanha alguns passos a mais até
um corredor horizontal com duas saídas, uma para a sala de estar onde uma
mulher de meia idade, muito bem vestida, com os cabelos presos num coque e
dentro de um vestido florido, quase como aqueles que se põe para ir à festas,
assistia calmamente algo na televisão.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Na cozinha, era ela de costas. Até de costas ainda a
reconheço. Conversava com uma outra mulher que ao me ver sumiu. Quando enfim
fui notado, ouvi um, “Eu não acredito!! Coisa boa te ver de novo! Vem cá, me dá
um abraço!” e se aninhou em mim. Ainda vestia um pijama de cores claras: calça,
blusa e um robe aberto que era algo como rosa-claro ou azul-bebê. Ao vê-la, fiquei
contrariado. Não pude evitar...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Senti algo como um apagão outra vez, aí o tom da conversa já
estava em “Josias quis saber por que você não foi conhecê-lo ... ”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Você só pode estar brincando! Tá achando que eu sou o que?
Palhaço, por acaso?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Não grita! Tem muita gente aqui. Não quero que nos ouçam.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Não me interessa que nos ouçam... Eu nem sei o que me
trouxe aqui..”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Não fala assim. Você não o conhece. O pai dele é muito
poderoso. É dono de muita cosia. Tu vai correr perigo se ficar se negando a fazer
o que ele quer..”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“É assim que você é tratada, pelo visto. Ainda reage na base
do medo porque o pai dele....Quer saber? Por mim o pai dele pode ser Deus. Ele
não é mais homem do que eu! Isso é patético!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Abri os olhos com a cabeça e os braços dormentes... <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-91036971841128198102013-12-22T02:12:00.001-02:002013-12-22T02:12:12.386-02:00Cantor de fruteira<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Para mim, cada cidade é um porto. Um lugar por onde passo e
só. Ás vezes me imagino como algum marinheiro do asfalto, um viajante de todo
lugar, mas de lugar nenhum”, disse ele como quem joga a rede e espera paciente
o peixe que se descuidará e entrará no meio do emaranhado de fios. Luan tinha
boas ideias. Hoje, ele “conversava”, como o próprio gostava de definir para os
amigos, mais por esporte que por outro motivo. “Você viaja muito?”, perguntou a
menina morena de rosto arredondado e olhos escuros que pagava as ameixas no
caixa da fruteira. Pronto. Agora era só puxar a rede. “Claro! Tenho muitas
histórias de viagem. Quer ouvir mais?”</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhakDzGNVyQFsCQ5WiOotwvN-dt98qKS9drEoB6OWMWd4NUXtSNBppQjVFQhfiwc6cb1nThbWx6GNVy-hRVs9mHIWrUZCEEIrDj0KMfdD6JjmGY4dgrd0qJLO2tzvUUqOpUrn0jQAgICuMz/s1600/beginning_photos_by_fruitpunchtsunami-d5flb8d.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhakDzGNVyQFsCQ5WiOotwvN-dt98qKS9drEoB6OWMWd4NUXtSNBppQjVFQhfiwc6cb1nThbWx6GNVy-hRVs9mHIWrUZCEEIrDj0KMfdD6JjmGY4dgrd0qJLO2tzvUUqOpUrn0jQAgICuMz/s320/beginning_photos_by_fruitpunchtsunami-d5flb8d.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ela sorriu, pegou a sacola de frutas e disse um tchau que
segundo a definição do dicionário de ironias da civilização, codificado depois
da descoberta dos Jardins Suspensos da Babilônia e do Código de Hamurabi,
queria dizer “Que papinho sem graça! Eu, hein... ”, que ainda segundo o mesmo
livro significa: “Aquela retórica que é proferida em um lugar impróprio e é
execrada cordialmente pelo interlocutor”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Enquanto isso entre as maçãs argentinas e a caixa de
carambolas, mirando o espelho posicionado de maneira muito criativa em cima das
frutas para que se tenha uma ilusão de ótica de maior quantidade de produtos,
outro peixe havia sido fisgado sem nem ao menos ser considerado pelo pescador.
Alice conhecia Luan desde a época das aulas de canto. Aulas estas que ele
odiava, mas fora matriculado por insistência de tia Albertina, a soprano da
família que costumava se apresentar em bingos beneficentes e jantares do Lions
Club, uma sociedade semi-secreta onde a nata da maturidade abastada da cidade
se reúne para expor sua burguesia e organização sem medo de represálias. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Voltando a Alice, ela sempre gostou de Luan. Achava-o
bonitinho, com boa voz, etc, etc. Já ele, só queria saber de cantar Tim Maia em
inglês. O que foi um dos grandes desafios de sua adolescência.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“We gonna rule the world<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Don’t you know? Don’t you know?..”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E sim, a fase “racional” do velho Tim era a sua preferida.
Ela odiava, mas nem ligava, era ligada no estilo dele e em seu <i>groove </i>ao interpretar. Hoje era o dia.
Ia ser agora. Ele ia notá-la!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Oi... eu estava ali escolhendo umas carambolas e não pude
deixar de ouvir, você é um viajante? Sério? Eu gostaria muito de ouvir as tuas
histórias.. bom... a gente nem se conhece, né? Nossa, que vergonha! Eu sou a
Alice, prazer..”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Hãmm.... ah...oi... Eu...Meu nome é...Luan...”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O cantor de outrora não se sentiu confortável com aquela
situação e acabou por dizer qualquer coisa para a menina, sorriu com educação,
disse que contaria mais sobre suas viagens, com todo o prazer, mas havia
lembrado que hoje tinha algo importantíssimo para fazer. E foi embora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Deixando Alice absorta em seu mundo de frustrações, entre os brócolis e as
couves-flores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
“Os homens têm medo da paixão/Ela fere, ela mata/como um
dragão”<o:p></o:p></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-50782763986895720482013-09-20T01:50:00.001-03:002013-09-20T01:50:06.946-03:00Tango<div class="MsoNormal">
Tan – Tan – Tan – Tã.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O brilho suave e prateado da lua cheia ilumina os meus
sapatos quase novos. Sinto-me importante outra vez enfim. É noite, a cama não
chama e nem o travesseiro satisfaz.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na rua.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É onde a procura acaba. Sinto um perfume qualquer que exala
não sei de onde. É quando ouço o som soar.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tan – Tan – Tan – Tã.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Caminho um pouco mais e vejo a porta aberta, a luz, que é
meia-luz, acesa. A melodia me tenta, tento fugir, afinal, é só uma caminhada,
mas a rosa no cabelo me puxa tal tivesse a força de mil exércitos. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vem, é só uma dança!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O salão ainda vazio, mas não importa, fui escolhido pela rosa,
pelo vestido justo ao corpo, pela melodia melancólica e cadenciada do bandoneon.
Sinto-me apenas flutuar, faz tempo desde a última vez, muito, e é como se não
fosse. Aqui, riscando o chão desse lugar tudo faz sentido.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
As dores da vida, do amor e do mundo não tem nenhuma importância.
Somos todos hipnotizados por essa vida e tal como hipnóticos seguimos até o último
salão cerrar suas portas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tan – Tan – Tan – Tã.</div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-85432487933879553322013-09-08T23:42:00.003-03:002013-09-08T23:42:34.856-03:00Sobre malas e gelo<div class="MsoNormal">
O furor não é nada mais que coisa fugaz e passageira. Ele
vai e com ele os anos de minha vida. Já foram quantos? Nem me dou o trabalho de
contar. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
As pedras de gelo do meu copo dançam coladas uma na outra
como se estivessem numa <i>slow dance </i>tão
melhor que as dos casais que conheço ou que conheci. Esse tem mais mobilidade e
sincronia e tal como alguns outros que também conheci, de perto ou de história,
irá se desfazer aos poucos, pela ação do tempo ou do desuso, a não ser que não se
movam. É inevitável, pois como dizem por aí: praticamente tudo é renovável. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Gosto de malas. Acho-as muito práticas e cheias de
significado. Postas no chão depois de longa viagem traz alívio. Postas na porta
com você do lado de fora transforma tudo em novo começo mesmo que às vezes o começo
seja sem você, a primeira vista. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Visto o casaco, o cachecol, as luvas e saio desse lugar.
Nunca me senti realmente inteiro aqui. O cheiro de borracha queimada dos
trilhos da estação me invadem as narinas mesmo eu estando a alguns quarteirões
de distância do início da minha mudança. Penso em como seria bom comer agora um
<i>apfelstrudel</i>, mesmo que nunca tenha
provado um e que esteja à quilômetros inimagináveis de achar alguém que saiba o
que é isso. São coisas que a internet faz com você. Ter memórias de coisas que
não são realmente parte do seu mundo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sigo pela rua movimentada. Vendedores ávidos pelo próximo
faturamento me abordam a todo instante, solícitos e simpáticos, mas não chamam
minha atenção. Malabaristas, artistas, cantores itinerantes entretêm crianças e
idosos com suas performances, ilusões gratuitas, mas nenhuma melodia ou truque ótico
me fará enxergar de forma diferente a realidade de que não há mais espaço relevante
para mim nesta cidade. “Vai mesmo! Há muitos lugares no mundo”, dirão vocês, “Vou
sem pensar em voltar”, direi eu. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Fica por aqui quem quiser ficar, quem puder chegar. Faz frio
demais para lamentações.</div>
<div class="MsoNormal">
Não compro um “guia do viajante”. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Satolep, Istambul, Pasárgada ou Macondo. Os ventos da
lucidez me levarão adiante, para onde o rei será mais que um amigo e tecerá
teorias sobre pedras de gelo em copos de scotch sentado a meu lado. </div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-17954827546434224702013-08-25T19:47:00.004-03:002013-08-25T19:47:47.663-03:00Maré<div class="MsoNormal">
Onda é um vai e vem.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pondo os olhos em direção à frente, ao oceano sem fim, é
certo que se vê que ela não precisa de ninguém. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Dessa vez não quero mergulhar, nem conchas apanhar ou passos
deixar. Minhas pegadas não importam. </div>
<div class="MsoNormal">
Quero que agora só o vento carregue o meu
pensamento pra dentro da maré. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Maré cheia. Tarde inteira. Lua inteira. Vida e meia...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Brilham as espumas que flutuam. Elas não tem culpa nenhuma
de ficar à deriva. Tudo sempre foi assim. Desde que o mundo é mundo. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Maré inteira. Tarde e meia. Vida cheia...</div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-36399089392179131782013-08-01T21:49:00.001-03:002013-08-01T21:57:18.767-03:00A pipa e a queda<div class="MsoNormal">
Começo esse texto caindo. O que em algum lugar longínquo dentro dos territórios confusos e peculiares do meu ponto de vista, nem parece tão
ruim assim, mas por vezes necessário.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Inicio tudo por cair no óbvio. Na diferença notável, mas não
imperceptível que há entre escrever e ler. Para escrever com certa habilidade é
preciso, no mínimo, de imaginação, transpiração, vontade observadora e algo que inventei chamar de <i>passive-aggressive boost</i>, ou seja, transformar simples
observações em ação. Ser, portanto, um intérprete de si mesmo e do mundo, para
viver um grande amo... Opa! Texto errado!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os que pensam que a leitura é mais fácil, na na ni na.
Sinto, meus amigos, que a leitura nos exija a perícia de alguém que saiba
empinar pipas muito bem. Muito embora eu não tenha a mínima noção de como é
isso (coisa que não fiz em minha infância). </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
É preciso que o jogo entre prender a atenção e soltar a
imaginação seja de uma sincronia fortíssima. E eis então que sinto falta da
minha pipa colorida lá em cima, serpenteando ágil na amplidão. Escrevendo no
céu coisas que só eu consigo enxergar, mas que quem quiser pode ver.<br />
<div class="MsoNormal">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-37546148774506602722013-07-30T16:36:00.000-03:002013-07-30T16:36:05.594-03:00Das vantagens de usar Óculos (e outros tipos de lente) <!--[if gte mso 9]><xml>
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<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Enxergar melhor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poder enxergar o mundo em HD, ou o máximo que a sua lente
permitir.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ter a condição de numa roda de pessoas ou em alguma situação
deveras decisiva, ajeitar os óculos de forma com que você sempre e
invariavelmente pareça mais inteligente e interessante do que você realmente é.
Isso resolve algumas coisas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tentar chamar a atenção de mais meninas do Leblon que não
olham mais pra você, ou mesmo de outro lugar que se esteja (esta vantagem não
possui restrições territoriais). </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Enxergar melhor. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Óculos de sol não serão aqui citados, pois eles não impõem
real respeito nem contribuem na saúde. É outra categoria...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Monóculos também estão fora de questão por motivos
temporais. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Lentes de contato são legais e plenamente aceitáveis.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A brincadeira sadia de logo após o banho embaçar suas lentes
por conta do vapor do banheiro lembra a infância e te proporciona um momento
jocoso!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
[Fim da lista]</div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-50427198733884372132013-07-28T23:05:00.000-03:002013-07-28T23:05:30.852-03:00Je ne parle pas français<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Será que esse lugar fica muito longe?”, pergunto a um
senhor que passa por mim. Ele está bem vestido, carrega uma pasta preta e um
jeito de certa pressa existencial. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Meu jovem, não tenho tempo para essas coisas. Estou
apressado demais”, diz ele tentando manter seu ritmo de caminhada e me ignorar
completamente. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É domingo. Faz um sol não mais que morno e dias assim não
costumam ser muito diferentes mesmo, pois domingos são assim. Só o que tenho é
um postal amarelado com duas palavras escritas no verso <i>Laurent hôtel - 408. </i>Não fazia a menor ideia de onde ficava o
lugar. Muito menos o porquê daquele acento estranho no “o” da palavra “hotel”. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nessa cidade tudo é encantadoramente complicado e caótico.
Por isso pessoas como eu resolvem às vezes sair por aí de bicicleta mesmo.
Poupa-se tempo e algum dinheiro adotando essa prática. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não tinha em mente algo concreto e claro do quê fazer.
Pretendia simplesmente pedalar pelas ruas e deixar qualquer resquício de vida mecânica,
industrial, rotulada e rotineira para trás por alguma hora e meia. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Logo no início da minha programação me distraí ao passar por
baixo das estruturas de um edifício em obras. Colunas e essas coisas sempre me
fascinaram. Lembro que quando menino gostava de desenhar casas, prédios,
pontes, diferentes tipos de tijolos. Até os que não existiam eu inventava.... </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De repente estava meio desorientado e caído no chão. Lembro
que a primeira coisa que notei, mesmo ali entre as pedras da calçada, foram as
sapatilhas pretas e o vestido branco florido que não mostrava mais que um pouco
abaixo dos joelhos de uma menina que sorria muito. Ria, na verdade. Ria de mim.
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Desculpa... ai...” (meu cotovelo direito)</div>
<div class="MsoNormal">
“Tu tá bem?”</div>
<div class="MsoNormal">
“Acho que sobrevivo. E tu, moça? Não parece machucada...”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por algum motivo, ela nada tinha sofrido. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“A minha bolsa caiu, mas não tinha nada que pudesse ser
quebrado. Olha por onde anda da próxima vez, tá? Cuidado.”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Enquanto juntava os pedaços de mim e averiguava se a magrela
tinha condições de seguir, notei um cartão caído perto de onde eu estava. Era o
tal cartão que tenho em mãos agora, pois sei que ele caiu da bolsa da minha
vítima. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por um instante, me senti dentro de um filme antigo. Mocinho
com pista de mulher misteriosa à sua procura e tudo de bom que isso talvez
resulte. Por isso preciso achar o lugar que está escrito nesse papel,
encontrá-la e pedir desculpas decentes. (Sim, sou um cara antiquado. Sei que
minhas atitudes meio que cheiram a mofo às vezes, mas que fazer?)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Após a negativa do homem apressado, sentei numa escadaria de
um edifício para pensar. Eu precisava de um plano que desse certo. Mas como fazer?
Nessa cidade desse tamanho, seria um pouco difícil para achar esse tal hotel.
Será que ela é de outro lugar? Tinha jeito de estudante... </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então tive uma ideia bem efetiva. Fui até a casa de Pedro,
um amigo de longa data. Ele me emprestou seu computador com internet por alguns
minutos. Achei o endereço. Viva as modernidades! </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A caminho do hotel, que não ficava muito longe de onde eu
estava. Vinte minutos bastariam para que eu chegasse lá, eis que meu telefone
toca. Ao olhar para o visor vejo que não reconheço quem liga. Ao atender nem
tenho tempo de falar nada...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Je sais ce que vous cherchez pour moi... Je suis en attente”</div>
<div class="MsoNormal">
<i>(Sei que você me procura. Estou esperando.)</i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Fiquei confuso. Por que alguém me liga e fala em francês? Eu
não sei francês.</div>
<div class="MsoNormal">
“Oi? Olha... Não entendi nada. Talvez tenha sido engano...”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Desligou. Fiquei sem entender, mas desconfiei que tivesse
tudo a ver com o cartão postal, a menina e o hotel.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Finalmente ao chegar ao <i>Laurent
hôtel, </i>um lugar antigo, mas bem cuidado que pouco se assemelhava com o que
tinha imaginado<i>, </i>deixei minha
condução encostada na frente. Entrei um pouco incomodado, ainda pensando no que
tinha ouvido daquela voz ao telefone. Uma mulher que parecia ser a dona do
lugar lia um livro com um ar solene. Seus óculos estavam na ponta de seu nariz
fino e longo. <i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Boa tarde, senhora. Estou procurando por um menina. Tenho
que devolver esse cartão para ela. Acredito que ela esteja aqui no quarto...
quatrocentos e oito.”</div>
<div class="MsoNormal">
“Você sabe o nome dela?”</div>
<div class="MsoNormal">
“Hum...Não.”</div>
<div class="MsoNormal">
“Eu não posso dar inforrrmações sobrrre meus hóspedes a
estrrranhos, menino!”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sem mais argumentos e bastante contrariado, agradeci e saí.
Já do lado de fora do hotel ouço um “Tu é rápido mesmo!”. Era ela..</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Oi! Hum... é.... eu.... Ah! Teu cartão. Eu acho q é teu. É
né?”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Rindo mais um pouco de toda a minha desenvoltura, ela
assertiu com a cabeça. Achei que era hora de ir embora, cheguei a duvidar de
tudo o que tinha feito até ali.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Então tchau.”</div>
<div class="MsoNormal">
“Como assim, ‘tchau’? É só isso?” disse ela. “Uso até meu
francês contigo e é isso?”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Essa pergunta resultou num café, num número de telefone e na
descoberta que Maria era prima de, quem diria, meu amigo Pedro. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vou ter que aprender francês urgentemente. Acho que vou pedalar menos também.</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3307889128002581310.post-10374624759204316532013-07-25T22:15:00.001-03:002013-07-25T22:15:41.003-03:00Só pra constar<div class="MsoNormal">
O Inverno deixa as pessoas com um ar de maior normalidade. O
frio deixa mais paciente e com movimentos corporais mais centralizados,
menos expansivos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Somos convidados a um ensimesmamento muito charmoso, afinal,
o Verão nem liga pra essas coisas. Ele está muito ocupado planejando a lista de
pessoas que irá convidar para a próxima festa que dará e que certamente vai
durar dias!Wagner Alteshttp://www.blogger.com/profile/09981064169975299868noreply@blogger.com0