terça-feira, 2 de outubro de 2012

Noir


A música toca lenta, o lugar é enfumaçado e escuro. Tudo em minha volta gira. Certamente não devia ter bebido tanto. Tenho vontade de sair mas minhas pernas não obedecem mais. São três da manhã, já devo ter perdido boa parte do dinheiro que recebi hoje. Um par de olhos castanhos me olham fixamente do outro lado do salão.

Gentes de toda cor, tamanhos e esquisitices povoam esse bar. Dizem que é o mais noir da cidade, pra não dizer fuleiro mesmo. É um dos poucos lugares que existem na cidadezinha de Esperança onde todos vêm a procura de diversão, bebida e um paliativo para suas vidinhas medíocres.

Ela caminha em minha direção, me pergunta se eu pago uma bebida pra ela. Digo que por aquele par de pernas pagaria qualquer coisa, ela dá uma risada alta e quer saber quem sou e como vim parar ali enquanto acende um cigarro. Sou de longe, trabalho com comércio vivo de cidade em cidade ganhando um pouco de dinheiro e perdendo tudo o que me resta de juventude. Odeio o meu emprego, sempre quis ser músico mas não tenho bem certeza de por que deixei de fazer o que queria para andar vendendo remédios em boticas de cidadelas do interior. 

De gole em gole a conversa vai ficando mais interessante e o convite para um lugar mais calmo e privativo torna-se uma possibilidade...

É só o que lembro de ontem a noite, antes de acordar nessa estrada sem minhas malas e meu dinheiro, seu guarda!

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