Há tempos que não vemos a luz do sol. Nosso povo tem fome.
Guardei esse pedaço de papel como se fosse a minha própria vida junto com essa
vela. Nosso povo está em guerra. Contra tudo, todos e contra si mesmo há tempo demais.
Nosso rei é um lunático. Depois que nossa rainha foi levada
pelo inimigo ele nunca mais a encontrou e vive de espada desembainhada. Queima
pontes, não abriga estrangeiros e mata todos os que acha suspeitos. Já foram
oferecidas diversas princesas para aplacar a sua ira, mas de nada adianta. Um
homem repleto de amor, mas cego de ódio é o que temos aqui.
Antigamente nem sabíamos quem ele era, pois não gostava de
aparecer e éramos tão estúpidamente felizes que nem pensávamos nisso e,
sinceramente, achávamos graça nesse certo mistério que nosso rei fazia e a
privacidade que tinha com sua vida pessoal. Mas após a primeira invasão e o sequestro
da esposa ele passou a não se importar com mais nada.
No dia em que um imenso dragão sobrevoou o palácio,
parecendo que para coroar a má fase do nosso monarca, ele se posicionou de peito
aberto e besta em punho em frente ao castelo e aos gritos de “me leva se tem
coragem, seu maldito!”. Gastou toda a sua munição na direção do monstro sem atingi-lo.
Parecia que o animal somente queria assustá-lo.
Hoje, o que temos aqui é um homem de cabelos brancos que
toda noite olha para além das montanhas sem achar nada, ainda que tenha posto
quase todo o exército a procura da mulher que ama.
Todos nós ainda procuramos um final mais feliz.