quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Na exposição

Ele olha para o quadro na parede e não entende nada, mas olha para sua interlocutora e sorri com um jeito de quem reconhece perfeitamente o que vê mais uma vez com um ar quase entediado. Não queria estar ali, preferia algo com mais música, mais bebida e menos gente blasé. Aceitou o convite para a exposição porque costumava aceitar quase tudo o que vinha de seus amigos.

“Não é demais? Toda a expressividade que este artista deu às cores frias e quentes neste quadro, acho que mostra muito bem o que os jovens de nossa época sentem. Toda essa angústia passivo-agressiva…”, dizia sua amiga numa análise que, com toda a certeza, devia ser apenas concordada.

Ele não via nada além de alguns rabiscos salpicados em todas as direções, algo que talvez, só talvez, uma criança de cinco anos também faria, ou quem sabe melhor.

“Ãhn…. claro! Isso mesmo!”

Ao invés da resposta que significava tudo, mas não dizia nada,  pensava na sua serie preferida do Netflix que estava perdendo. Era uma pena porque não teria tempo de vê-la por bastante tempo.

“Vamos até o terraço? Quero pegar um pouco de ar puro.”, Perguntou para ver se conseguia se salvar de mais avaliações cheias de significado.

A amiga aceitou o convite, mas antes conversou com muitos conhecidos que a pararam no meio do caminho para dizer olá ou simplesmente pedir suas opiniões e conselhos sobre outras exposições que valiam a pena na cidade. Ele não sabia até o momento como ela era influente naquele meio apesar de não pintar coisa alguma.

Enfim no terraço puderam conversar em paz e ele pôde ver as luzes da cidade longe dos quadros e de todos os entendidos, pintores, artistas e pseudo-críticos.

“Nossa… Tudo isso dá pra ver só neste quadro?”

“Claro! Não é óbvio? Se não tá vendo isso, você tem problemas”.