domingo, 26 de maio de 2013

Pena


Não quero começar esse texto com lugares escuros, nem com músicas que tocam ao fundo de onde quer que seja lembrando sabe-se lá o quê. Quero paz...

No fundo, hoje é dia dessa pena deixar a metáfora de lado e se mostrar, pois não há outra saída. Essa pena não quer mais escrever pela guerra, pela luta diária contra o passado, contra a tristeza, contra tudo e contra todos, contra si mesma. A pena não quer mais penas (salvo o trocadilho). Essa pena quer paz.

A folha em branco nunca fica nula. Nunca lembra nada, assim, nua.

A pena tem por anseio rompê-la em versos, em linhas corridas. Como se correr fosse o fado dessa pena.

Essa pena gostaria de ser solar. De versar livre a alegria, de fazer história todo dia, mas não, ela só agrada a quem se reconhece nela, e só.

“A vida é real e de viés”, não é fotografia que tiramos com óculos escuros, olhando com expressão despreocupada diretamente para o nada dentro de algum carro com a janela aberta e cabelos ao vento.

Quando a pena encontrar aquilo pelo quê escrever, talvez então seja o dia em que amanhecer e anoitecer sejam coisas completamente diferentes.

Por enquanto, a musa ainda chora baixinho...

terça-feira, 14 de maio de 2013

Abre-alas



Abre-alas pra todos que vem por aí. Abre-alas pra mim e pra você. Que somente repique e reverbere o que tiver de ser. O resto, que vire recordação ou nem isso. Se o samba não é bom, não vale a pena ser dançado. Samba alegre, que dá enredo, vira agremiação, escola, ensina, é carnaval

Mas não se engana, pessoal, a quarta-feira sempre chega e deixa aquele amargo, aquela coisa de nostalgia com gosto de cerveja quente.

Abre-alas pra alegria. Abre-alas pra canção. Seja de que forma for, porque o tom dela não se escolhe, se prefere. É diferente.

“Abre-alas pra minha folia, já está chegando a hora”.

domingo, 12 de maio de 2013

O Espelho


Eu não estou ficando mais jovem. O espelho me mostra isso a cada dia que passa. Mas também há tanto pra fazer e pra pensar que a minha juventude acaba sendo o preço a ser pago por todos esses dias.

Moro muito perto de um aeroporto. O que significa barulho. Meus momentos de paz dependem muito das condições meteorológicas e da quantidade de aviões que decolam e pousam. Engraçado, que quando pequeno sempre quis ser piloto. Hoje, tento pilotar a minha própria vida. Com algum sucesso.

Há meio ano fui a um brechó, pois precisava de algumas coisas para mobiliar o apartamento a preços módicos. Lá, havia um espelho. Eu sinceramente, não precisava de um espelho. Acabei comprando para alguma eventualidade.

Não sou um homem vaidoso, mas o pus em um canto da sala do apê. Ali ele ficou e durante umas boas semanas eu nem o olhava e até o esquecia por uns tempos. Uma noite, acordei para um copo d’água e no caminho para a geladeira não pude deixar de notar uma estranha claridade na minha mais nova aquisição. Estava brilhando! (?)

Fiquei paralisado por uns instantes olhando aquilo e pensando que certamente devia ter bebido demais, mas eu não tinha posto uma gota de álcool na boca. Então o que era aquilo afinal de contas?

Resolvi chegar mais perto, com muita calma, pé ante pé. Conforme eu me aproximava a claridade ia ficando maior e mais nítida, ganhando formas e feições conhecidas. Quando fiquei frente a frente com o espelho. Vi com estes olhos que um dia a terra há de terminar de comer (porque a hipermetropia já começou o processo), um rosto. Exatamente, um rosto que não era de homem, nem de mulher. Não dava para definir com certeza. Então, o mais bizarro aconteceu. O rosto me olhou e disse:

“Quer saber quem é a mais bela do reino ou quer saber seu futuro?”

No outro dia, fui ao brechó e devolvi o adivinho. Ele anda meio desatualizado. Não há mais reinos e essa coisa de “mais bela” hoje em dia, só em trajes de banho mesmo.

Pedi meu dinheiro de volta.      

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Epifania

Hoje sei que a expressão "Eleva teu pensamento" realmente tem razão de ser.

Estava no elevador, entre o quarto e o quinto andar, quando tive uma impressão quase epifânica: tenho dificuldade em terminar o que começo.

Ainda não tenho bem a clara certeza da gravidade disso, mas sei que é assim.

Recapitulando bem, noto uma boa meia-dúzia de coisas que sempre vou deixando pra depois, pra outra hora, outro dia... e acaba que nada disso tem fim.

É, mas desse texto é o final. Sim, pode passar para o próximo.