quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Mmm...


Mudei, mudo
Mundo mais maduro, minimamente
Maluquices, miscelâneas, mais ou menos
Mente feito mola, moldada
Minha manhã maior
Particularmente mudada
Motor ao máximo, por mim mesmo

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Assinado: Eu



“Não sinta a minha falta. Pensarei em ti”.

                                              Assinado: Eu

No final da folha havia sinais de umidade. Não posso precisar se lágrimas ou gotas de refrigerante. Também não sei dizer o que pensei quando li essas últimas frases. Já não sou o mesmo de antes. Esses anos todos de front me deixaram com um sentimento de falta de novidade. Nem lembro mais como é ser abandonado e como se reage a isso. Desaprendi muita coisa nesses anos de guerra.

Sei as diversas formas de matar um homem. Para isso, eu tenho o know how. Sei sobreviver na selva. Sei identificar ervas venenosas de comestíveis, mas não soube descobrir o que aconteceu durante esse tempo que estive fora. Provavelmente, um outro eu esteve aqui, várias vezes. Ou eu mesmo deixei de estar.

Não sei mais como sentir isso. Olho para dentro do guarda-roupas e vejo as minhas fardas, medalhas, revólveres dentro de uma caixa. Tudo o que me pertence cabe em metade do espaço total do móvel. O que você levou, fez com que aparecesse todo o espaço que você ocupava. Era muito espaço.

O quarto rescende à baunilha. Engraçado como esse era o meu cheiro preferido. O seu. Hoje, ele me deixa tonto cada vez que entro nesse lugar. Por mais que as janelas fiquem sempre abertas, o cheiro não vai embora.

Já faz duas noites que acordo na porta de casa. Não lembro o que acontece até eu chegar ali. Preciso ir a um médico.

Apoiando uma das pernas contra o balcão. Era assim que você ficava quando estava fazendo algo na pia da cozinha. Agora eu só como comida congelada. Minha incapacidade culinária sempre cruzou as fronteiras das salas das casas dos nossos amigos. Eu sempre fui piada nas rodas de conversa. Eu até ajudava em algumas piadas. Isso foi antes da guerra. Antes de tudo.

Em cima da mesa havia uma caixa de fósforos. Ela não existe mais. Peguei as fardas, e as medalhas; as lembranças e a solidão. Tudo virou fogo. As armas, vendi. A casa, também.

É preciso outras guerras, outros territórios.   

domingo, 27 de janeiro de 2013

On the rocks

Amor é para ser bebido com gelo, lentamente.

Alegria


Alegria é bafo na janela
Deve-se ter pressa em fazer logo o desenho. 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Beira da fogueira


Quem nunca viu uma fogueira de perto não sabe o que ela é capaz de fazer com a alma. Ela tem poder quase curativo, porque o fogo ilumina as escuridões que carregamos no coração. A fogueira é necessária. A luz da Lua é necessária. Este ar é necessário, as estrelas e as danças nos inspiram.

Não vi muito da vida, mas o que conheço de minha gente já me faz saber muito, mais do que os gadjós sabem. Esses homens não sabem como negociar, nem diferenciam bem o certo do errado e tampouco dão valor às coisas.

Tudo aqui é motivo de festa. Até quando estamos tristes fazemos festa. Dançamos e cantamos para que essa tristeza não dure mais que um dia. A vida é muito mais do que simplesmente se lamentar, moça.

Todo homem devia ver de tudo o que há no mundo, mas sem nunca deixar de pisar no seu chão, de ver a sua gente, de estar com quem ama.

Nós sabemos o que é isso, sim. Vês aquela que dança em roda com as crianças? Nos conhecemos desde pequenos. As estrelas brilham mais forte quando ela rodopia ao som de nossa música. Essas coisas sentem-se em qualquer tempo, lugar ou circunstância, moça.

Peço aos céus para que nunca percamos isso. Esse é o nosso jeito de viver, nossa forma de ver as coisas. Sempre haverá alguém para tocar as cordas, alguém para acender a fogueira e caminhos para seguir quando acharmos que devemos ir adiante...  
   

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Azar



Costumo ir toda semana ao mesmo lugar. Preferencialmente à noite, após o trabalho procurando por música, whisky e o que mais for lucrativo. Segundo alguns amigos, nesse bar estão as melhores bandas e as melhores bebidas da cidade.

Eis que uma note dessas estou sentado na minha mesa preferida, pensando em nada, quando surge sei lá de onde um rapaz e pergunta:

- Tem um cigarro?

Parecia ter pouco mais de vinte anos. Não conseguia ver muito bem o seu rosto porque o salão estava muito enfumaçado, demais até pro meu gosto. Segui prestando atenção na música que há tempos não era tão boa. Ele insistiu:

- Ei, moço! Tem um cigarro ou não?

Aquele tom rude conseguiu desviar a minha atenção e criar uma antipatia imediata com o garoto.

- Não tenho, não. Agora me deixa em paz, ok?

Pro meu azar, o cara era insistente. Resolveu tentar o caminho mais fácil. Puxou uma cadeira, tirou o chapéu e o casaco. Sentou (sem o meu consentimento) e começou a tagarelar.

- Sabe, cheguei na cidade há pouco tempo, mas já gostei muito dos lugares. Vim do interior e quero ser cantor. Quero ser conhecido! O senhor ali do balcão disse que você podia me ajudar.

Naquele instante, quis chutar o barman pra Lua. Infelizmente pra mim e felizmente pra ele, eu era o cara que podia mesmo ajudá-lo.

- Olha, guri... Eu tô de folga. Só vim até aqui pra ouvir música e não pra falar dela. Além disso, tem toda a questão da guerra que está quase estourando aí fora e só Deus sabe como estão difíceis as coisas pra quem vive de música. Quer um conselho? Arruma um emprego, uma mulher e faz uma penca de filhos. Te distrai.

- Moço, meus pais se fossem vivos iriam querer que eu seguisse o meu sonho. Desculpe a franqueza, mas se o senhor não me ajudar eu vou dar um jeito sozinho mesmo.  

O cara tinha personalidade. Levantou e não quis mais papo. Acompanhei-o com o olhar. Decidi não ajudá-lo em sua carreira mesmo. Por isso a vida é tão engraçada. Hoje eu estou aqui, sentado na primeira fila do show dele. O teatro está lotado pra ver ele cantar. 

No fim das contas, ele era bom mesmo.  


Improviso


Somos tudo aquilo que dá pra ser. Nada mais. Tudo aquilo que se pode ver e um pouco mais.

Não há ensaio, nem aviso. Tudo é feito de improviso e se causar o riso, lindo! Senão, se procura sempre outro caminho.

Só resta tudo e mais um pouco...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Infância


Abri os olhos como numa manhã qualquer e pus os pés no chão. Era um dia como outro qualquer. Na minha janela entravam poucos raios de luz. Ainda sentia o atordoamento do sono. Abri a porta e naquele instante vi que algo não estava bem.

Senti um cheiro bem particular ao pisar fora do meu quarto. Era bolo de milho. Ao tentar abrir melhor os olhos vi que aquela casa era a minha casa, mas há uns vinte anos atrás! Foi quando olhei no espelho e não acreditei...

Me olhei no espelho e me via como se tivesse voltado aos meus dez anos. Impossível!  A casa estava vazia, mas não dava para ignorar o aroma daquele bolo que só a minha vó sabia fazer. Vi a porta da casa. Abri. Ganhei a rua. Tudo parecia normal, mesmo porque nunca imaginei o passado em tons de sépia, mas eu me via diferente. Como alguém com mais de quarenta anos vira uma criança? Eu não estava sonhando. Não era sonho!

Andei alguns quarteirões sem notar antes do último que atravessei que não havia pessoas nas ruas. Tudo muito bem cuidado, mas tudo vazio e quieto.

Vi uma praça. Era iluminada e cheia de gente: Homens, mulheres, jovens, idosos, crianças. Talvez lá eu pudesse descobrir o que acontecia comigo. Resolvi chegar e abordar um homem. Ele me olhou, mas nada falou. Tentei uma senhora de cabelos brancos, também não tive sucesso. Eu já estava muito nervoso. Ninguém falava, mas todos interagiam e pareciam felizes.

Até que uma menina de uns nove anos chegou perto de mim e disse: “Nunca saímos dessa praça. Não precisamos de outro lugar. Tudo o que queremos está aqui. Todos queremos que você fique”.

Após ela dizer isso, me senti encolhendo aos poucos. Até começar a ouvir uns estalos “Clic”, “Clic”, “Clic”.

- Ok, Alberto. Chega de terapia por hoje.
...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Feito oração


Quero algo que não me mostre o escuro, toda a dureza e a cor de concreto de tudo. Que não seja seguro, que não faça segredo, que não sinta medo do medo.

Reunimos todo o nosso poderoso vocabulário no final do ano para mostrar e exibir tudo o que fizemos ou deixamos de fazer para todos verem. Viramos exibicionistas e eu sou mais um deles. Dane-se! Que nos percamos mesmo em meio a todas essas postagens e atualizações. É isso! Viramos Narcisos e se isso nos traz uma mínima saciedade, que assim seja.

Que vivam os Gates, os Jobs, os Marks e os ideias. Sem estes últimos, os primeiros não teriam feito toda essa parafernalha que modificou pra sempre a nossa vida. Que viva em nós tudo o que puder fazer-nos melhores, mais decididos, mais alegres, mais competentes e mais humanos.

Que enfim seja visto tudo o que ainda não foi desvendado e que o bem e até mesmo o mal sempre estejam aí, batendo em nossas portas e que saibamos discernir e escolher qual deles iremos alimentar e deixar crescer dentro dos nossos quintais.

Que o mais belo quintal seja aquele que vive e floresce dentro de cada um de nós. Que mi casa seja sempre su casa enquanto houver reciprocidade e respeito. Que todo dia aprendamos a respeitar e a sermos respeitados.

Que sempre haja espaço para o aprendizado, por mais doloroso que ele seja, ele é necessário para coisas que são maiores até que nós.

Que saibamos amar. Verbo complicado de se duplicar, mas tão bom de ser pronunciado, assim, a dois.

Que a gente entenda que nem tudo está ao meu alcance e precisa do nosso controle para existir.

Que sejamos entendidos, ouvidos e compreendidos.

E que este maldito plural vire singular, mas que o singular não se pense “auto-suficiente”.

Que a criatividade não seja amordaçada. Que ela surja onde quiser e da maneira que melhor lhe parecer.

Que sejamos seus instrumentos.

Que o Tempo deixe que tudo isso cresça em mim e em todos. Não há perfeição sem experiências, nem experiências sem chances ou chances sem confiança. Tudo isso não existe sem vontade.

Fim e começo...