Ela tinha algo que as outras não tinham e que nunca, nem em
sonho conseguiriam ter. Quê era aquilo? Eram os olhos. O jeito de mirar as
coisas. Não era triste, nem desinteressado ou aos pedaços como já é o olhar de
algumas pessoas, era diferente. Era vivo, e vivo deixava tudo por onde pousava
aquele olhar que pousou em mim e disse nunca mais sair de mim.
Não, meu senhor. Não é mais uma história que exalta ou
esclarece o sentir. Apenas conto o que vi, só isso. Aqueles olhos um dia passaram
por mim e me fizeram ser o que sou. Não! Não penses que é com orgulho ou razão aflorada
que te digo isso, pois não é o amor que manda em minha fala. É apenas o acaso e
por vezes o infortúnio que apareceram entre flores e espinhos.
Um dia, estes olhos foram para longe. Tão longe quanto
possas imaginar... E tudo se fez igual, sem final e sem saída. Acho até que
dentre algumas festividades se dava para tirar da mente aquela infeliz obsessão
pelos tais olhos da amiga. Mas passadas as alegrias, cantos e bebidas eis que
surgia a falta retumbantemente grande de ser visto e quisto...
Viajei. Fui a Piracicaba tomar famosa aguardente que um
conhecido me tinha indicado. Lhe dou uma chance para adivinhar quem estava no
fundo de cada copo...
Mudei. Rotas para o trabalho, todas diferentes. Hábitos
alimentares também. Comprei um fiel e afável cachorrinho que muito me mira e
depende, mas óbvio que é só um cão e que ocupa em parte meu tempo.
Não sofro, pois é em vão. Não espero nem desespero mais.
Mesmo porque não sou homem desses gestos, minha criação tradicional somada a
excesso de timidez me impede de tais coisas. Hoje preciso levar Urso (o
cachorro) para alguns exercícios ao ar livre.
Mas vamos tratar do senhor, veio escolher seus óculos, não é
isso?