“Com licença! Com licença! ....! ....!!”
Conforme os passos iam aumentando, ia me dando conta que não
era necessário e nem adiantava pedir licença para conseguir mais espaço. Àquela
hora e naquelas circunstâncias a polidez é irrelevante. Melhor deixa-la pra
segunda-feira.
O ar é rarefeito, mas só prestei atenção nisso agora porque é
certo que tem mais gente do que quando entrei. Ao simples toque de alguns
botões de computador o lugar todo parece entrar em transe, os motivos para esse
transe acontecer não são os mesmos: diversão, tédio, álcool, libertação,
carência, mais fotos no Facebook. Tudo pode ser um motivo e um gatilho a mais
para a melodia cortar feito navalha os ouvidos e a noção de todos os que estão
na pista e fazê-los esquecer de tudo e de todos.
O volume aumenta, o álcool também e de um instante para o
outro me imagino dentro de um lugar ainda mais escuro com clareiras espaçadas e
nesta escuridão o brilho dos olhos de todos me observam e se observam entre si.
É uma caçada e as regras do jogo não estão muito claras. O que importa então
é decidir como reagir a tudo o que acontece a minha volta. As luzes brilham
caleidoscópicas e atordoam qualquer tipo de reação que mencione a saída dali.
Todos dançam, riem, falam alto, tiram fotos que vão precisar de edição no outro
dia.
A única coisa que consigo pensar em meio a todo o barulho é
que as coisas que são feitas dentro de lugares onde as luzes piscam fortes, mas
não nos transcendem, onde a música é alta, mas não nos desperta e nem inspira,
só tem como ser feitas à noite, pois a noite liberta tudo o que o dia, com seu
ar sério e trabalhador, não concebe de ser liberto.