domingo, 8 de junho de 2014

Luz Negra

“Com licença! Com licença! ....! ....!!”

Conforme os passos iam aumentando, ia me dando conta que não era necessário e nem adiantava pedir licença para conseguir mais espaço. Àquela hora e naquelas circunstâncias a polidez é irrelevante. Melhor deixa-la pra segunda-feira.

O ar é rarefeito, mas só prestei atenção nisso agora porque é certo que tem mais gente do que quando entrei. Ao simples toque de alguns botões de computador o lugar todo parece entrar em transe, os motivos para esse transe acontecer não são os mesmos: diversão, tédio, álcool, libertação, carência, mais fotos no Facebook. Tudo pode ser um motivo e um gatilho a mais para a melodia cortar feito navalha os ouvidos e a noção de todos os que estão na pista e fazê-los esquecer de tudo e de todos.

O volume aumenta, o álcool também e de um instante para o outro me imagino dentro de um lugar ainda mais escuro com clareiras espaçadas e nesta escuridão o brilho dos olhos de todos me observam e se observam entre si. É uma caçada e as regras do jogo não estão muito claras. O que importa então é decidir como reagir a tudo o que acontece a minha volta. As luzes brilham caleidoscópicas e atordoam qualquer tipo de reação que mencione a saída dali. Todos dançam, riem, falam alto, tiram fotos que vão precisar de edição no outro dia.

A única coisa que consigo pensar em meio a todo o barulho é que as coisas que são feitas dentro de lugares onde as luzes piscam fortes, mas não nos transcendem, onde a música é alta, mas não nos desperta e nem inspira, só tem como ser feitas à noite, pois a noite liberta tudo o que o dia, com seu ar sério e trabalhador, não concebe de ser liberto.