Era uma vez um vilarejo
onde ninguém sentia saudade. Não se engane ou sinta pena, pois este lugar era
como qualquer outro e não havia graves problemas. Tudo era completamente igual
a todo lugar que você conhece, as pessoas riam, brincavam, comiam, dormiam, se
encontravam e de todo modo, viviam, mas não de um jeito intenso ou como se não
houvesse amanhã, porque em histórias fabuladas ninguém faz isto. Viviam
normalmente.
Quando havia graça a
alegria se fazia presente nos lábios e corações, quando esta se ausentava a
tristeza tomava conta e isso apesar de triste não trazia surpresa alguma. No
lugar era comum a hospitalidade e todos recebiam muito bem todo e qualquer forasteiro
que chegasse buscando comida ou abrigo fosse pelo tempo que fosse.
Quem vinha de fora se
sentia realmente acolhido, pois sempre havia a quem ouvir sobre as antigas
histórias do lugarejo, sobre os costumes locais e sobre as caravanas que
passavam ou sobre o circo que por vezes animava a crianças e anciãos. Porém, se
perguntados quando gostariam que um destes eventos que tiravam todos de suas
rotinas voltasse, diziam:
— Não sabemos dizer. Se
um dia voltar, tudo bem.
O mesmo acontecia com
as pessoas há muitas décadas. Casais que se gostavam conseguiam ficar dias sem
contato, mensagem ou mesmo procura pessoal porque não tinham saudade. Os
comentários nas cidadelas vizinhas era que uma maldição tinha sido jogada naquele
lugar por uma moça de coração partido. Não se sabia ao certo. A certeza era que tudo
acontecia movido mais pela necessidade do que pela vontade saudosa.
E todos viveram de
certa forma indiferentes para sempre.