Abri os olhos como numa manhã qualquer e pus os pés no chão.
Era um dia como outro qualquer. Na minha janela entravam poucos raios de luz.
Ainda sentia o atordoamento do sono. Abri a porta e naquele instante vi que
algo não estava bem.
Senti um cheiro bem particular ao pisar fora do meu quarto.
Era bolo de milho. Ao tentar abrir melhor os olhos vi que aquela casa era a
minha casa, mas há uns vinte anos atrás! Foi quando olhei no espelho e não
acreditei...
Me olhei no espelho e me via como se tivesse voltado aos
meus dez anos. Impossível! A casa estava
vazia, mas não dava para ignorar o aroma daquele bolo que só a minha vó sabia
fazer. Vi a porta da casa. Abri. Ganhei a rua. Tudo parecia normal, mesmo
porque nunca imaginei o passado em tons de sépia, mas eu me via diferente. Como
alguém com mais de quarenta anos vira uma criança? Eu não estava sonhando. Não
era sonho!
Andei alguns quarteirões sem notar antes do último que
atravessei que não havia pessoas nas ruas. Tudo muito bem cuidado, mas tudo
vazio e quieto.
Vi uma praça. Era iluminada e cheia de gente: Homens,
mulheres, jovens, idosos, crianças. Talvez lá eu pudesse descobrir o que
acontecia comigo. Resolvi chegar e abordar um homem. Ele me olhou, mas nada
falou. Tentei uma senhora de cabelos brancos, também não tive sucesso. Eu já
estava muito nervoso. Ninguém falava, mas todos interagiam e pareciam felizes.
Até que uma menina de uns nove anos chegou perto de mim e
disse: “Nunca saímos dessa praça. Não precisamos de outro lugar. Tudo o que
queremos está aqui. Todos queremos que você fique”.
Após ela dizer isso, me senti encolhendo aos poucos. Até
começar a ouvir uns estalos “Clic”, “Clic”, “Clic”.
- Ok, Alberto. Chega de terapia por hoje.
...
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