terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Azar



Costumo ir toda semana ao mesmo lugar. Preferencialmente à noite, após o trabalho procurando por música, whisky e o que mais for lucrativo. Segundo alguns amigos, nesse bar estão as melhores bandas e as melhores bebidas da cidade.

Eis que uma note dessas estou sentado na minha mesa preferida, pensando em nada, quando surge sei lá de onde um rapaz e pergunta:

- Tem um cigarro?

Parecia ter pouco mais de vinte anos. Não conseguia ver muito bem o seu rosto porque o salão estava muito enfumaçado, demais até pro meu gosto. Segui prestando atenção na música que há tempos não era tão boa. Ele insistiu:

- Ei, moço! Tem um cigarro ou não?

Aquele tom rude conseguiu desviar a minha atenção e criar uma antipatia imediata com o garoto.

- Não tenho, não. Agora me deixa em paz, ok?

Pro meu azar, o cara era insistente. Resolveu tentar o caminho mais fácil. Puxou uma cadeira, tirou o chapéu e o casaco. Sentou (sem o meu consentimento) e começou a tagarelar.

- Sabe, cheguei na cidade há pouco tempo, mas já gostei muito dos lugares. Vim do interior e quero ser cantor. Quero ser conhecido! O senhor ali do balcão disse que você podia me ajudar.

Naquele instante, quis chutar o barman pra Lua. Infelizmente pra mim e felizmente pra ele, eu era o cara que podia mesmo ajudá-lo.

- Olha, guri... Eu tô de folga. Só vim até aqui pra ouvir música e não pra falar dela. Além disso, tem toda a questão da guerra que está quase estourando aí fora e só Deus sabe como estão difíceis as coisas pra quem vive de música. Quer um conselho? Arruma um emprego, uma mulher e faz uma penca de filhos. Te distrai.

- Moço, meus pais se fossem vivos iriam querer que eu seguisse o meu sonho. Desculpe a franqueza, mas se o senhor não me ajudar eu vou dar um jeito sozinho mesmo.  

O cara tinha personalidade. Levantou e não quis mais papo. Acompanhei-o com o olhar. Decidi não ajudá-lo em sua carreira mesmo. Por isso a vida é tão engraçada. Hoje eu estou aqui, sentado na primeira fila do show dele. O teatro está lotado pra ver ele cantar. 

No fim das contas, ele era bom mesmo.  


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