Costumo ir toda semana ao mesmo lugar. Preferencialmente à
noite, após o trabalho procurando por música, whisky e o que mais for lucrativo.
Segundo alguns amigos, nesse bar estão as melhores bandas e as melhores bebidas
da cidade.
Eis que uma note dessas estou sentado na minha mesa
preferida, pensando em nada, quando surge sei lá de onde um rapaz e pergunta:
- Tem um cigarro?
Parecia ter pouco mais de vinte anos. Não conseguia ver
muito bem o seu rosto porque o salão estava muito enfumaçado, demais até pro
meu gosto. Segui prestando atenção na música que há tempos não era tão boa. Ele
insistiu:
- Ei, moço! Tem um cigarro ou não?
Aquele tom rude conseguiu desviar a minha atenção e criar
uma antipatia imediata com o garoto.
- Não tenho, não. Agora me deixa em paz, ok?
Pro meu azar, o cara era insistente. Resolveu tentar o
caminho mais fácil. Puxou uma cadeira, tirou o chapéu e o casaco. Sentou (sem o
meu consentimento) e começou a tagarelar.
- Sabe, cheguei na cidade há pouco tempo, mas já gostei
muito dos lugares. Vim do interior e quero ser cantor. Quero ser conhecido! O
senhor ali do balcão disse que você podia me ajudar.
Naquele instante, quis chutar o barman pra Lua. Infelizmente
pra mim e felizmente pra ele, eu era o cara que podia mesmo ajudá-lo.
- Olha, guri... Eu tô de folga. Só vim até aqui pra ouvir música
e não pra falar dela. Além disso, tem toda a questão da guerra que está quase
estourando aí fora e só Deus sabe como estão difíceis as coisas pra quem vive
de música. Quer um conselho? Arruma um emprego, uma mulher e faz uma penca de
filhos. Te distrai.
- Moço, meus pais se fossem vivos iriam querer que eu
seguisse o meu sonho. Desculpe a franqueza, mas se o senhor não me ajudar eu
vou dar um jeito sozinho mesmo.
O cara tinha personalidade. Levantou e não quis mais papo. Acompanhei-o
com o olhar. Decidi não ajudá-lo em sua carreira mesmo. Por isso a vida é tão
engraçada. Hoje eu estou aqui, sentado na primeira fila do show dele. O teatro
está lotado pra ver ele cantar.
No fim das contas, ele era bom mesmo.
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