Eu não estou ficando mais jovem. O espelho me mostra isso a
cada dia que passa. Mas também há tanto pra fazer e pra pensar que a minha
juventude acaba sendo o preço a ser pago por todos esses dias.
Moro muito perto de um aeroporto. O que significa barulho.
Meus momentos de paz dependem muito das condições meteorológicas e da
quantidade de aviões que decolam e pousam. Engraçado, que quando pequeno sempre
quis ser piloto. Hoje, tento pilotar a minha própria vida. Com algum sucesso.
Há meio ano fui a um brechó, pois precisava de algumas
coisas para mobiliar o apartamento a preços módicos. Lá, havia um espelho. Eu
sinceramente, não precisava de um espelho. Acabei comprando para alguma
eventualidade.
Não sou um homem vaidoso, mas o pus em um canto da sala do
apê. Ali ele ficou e durante umas boas semanas eu nem o olhava e até o esquecia
por uns tempos. Uma noite, acordei para um copo d’água e no caminho para a
geladeira não pude deixar de notar uma estranha claridade na minha mais nova
aquisição. Estava brilhando! (?)
Fiquei paralisado por uns instantes olhando aquilo e
pensando que certamente devia ter bebido demais, mas eu não tinha posto uma
gota de álcool na boca. Então o que era aquilo afinal de contas?
Resolvi chegar mais perto, com muita calma, pé ante pé.
Conforme eu me aproximava a claridade ia ficando maior e mais nítida, ganhando
formas e feições conhecidas. Quando fiquei frente a frente com o espelho. Vi
com estes olhos que um dia a terra há de terminar de comer (porque a hipermetropia
já começou o processo), um rosto. Exatamente, um rosto que não era de homem, nem
de mulher. Não dava para definir com certeza. Então, o mais bizarro aconteceu. O
rosto me olhou e disse:
“Quer saber quem é a mais bela do reino ou quer saber seu
futuro?”
No outro dia, fui ao brechó e devolvi o adivinho. Ele anda
meio desatualizado. Não há mais reinos e essa coisa de “mais bela” hoje em dia,
só em trajes de banho mesmo.
Pedi meu dinheiro de volta.
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