domingo, 14 de abril de 2013

Grande Hotel


Não sinto os meus dedos. A sensação é incômoda, muito incômoda. Não há onde me abrigar. A não ser em meu casaco, que já tinha visto uns dois invernos antes desse e já não tinha mais toda aquela novidade. Faz frio, um frio que cala a todos.

Passa das seis. Venho descendo as ruas em direção a parte mais iluminada e movimentada da cidade. Só o que se ouve é o assobio do vento que faz questão de ser a minha companhia nessa noite e o barulho do trânsito. Lembro da vitrola e dos vinis que esperam por mim, prontos para me brindar com todas as músicas que já conheço de cór. O bom de conhecer muito bem alguma coisa é que não precisamos de esforço algum para recordá-las.

Paro na calçada e olho para cima. É aqui o hotel onde tenho ficado. Recebo um ‘boa noite’ cordialmente automático do vigia que abre a porta para mim. Entro.

Ao entrar no quarto depois de oito andares num elevador repleto de mim, não me importo mais se está frio. Abro as duas folhas da janela e fico observando o movimento que resta no dia de hoje. Não é possível se pensar em mais nada dentro desse quarto de hotel.

Abro a maleta, coloco a agulha no disco e deixo meus conhecidos entrar e se juntar a mim nessa leitura de sacada.   

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