Não sinto os meus dedos. A sensação é incômoda, muito
incômoda. Não há onde me abrigar. A não ser em meu casaco, que já tinha visto
uns dois invernos antes desse e já não tinha mais toda aquela novidade. Faz
frio, um frio que cala a todos.
Passa das seis. Venho descendo as ruas em direção a parte
mais iluminada e movimentada da cidade. Só o que se ouve é o assobio do vento
que faz questão de ser a minha companhia nessa noite e o barulho do trânsito. Lembro
da vitrola e dos vinis que esperam por mim, prontos para me brindar com todas as
músicas que já conheço de cór. O bom de conhecer muito bem alguma coisa é que
não precisamos de esforço algum para recordá-las.
Paro na calçada e olho para cima. É aqui o hotel onde tenho
ficado. Recebo um ‘boa noite’ cordialmente automático do vigia que abre a porta
para mim. Entro.
Ao entrar no quarto depois de oito andares num elevador
repleto de mim, não me importo mais se está frio. Abro as duas folhas da janela
e fico observando o movimento que resta no dia de hoje. Não é possível se
pensar em mais nada dentro desse quarto de hotel.
Abro a maleta, coloco a agulha no disco e deixo meus
conhecidos entrar e se juntar a mim nessa leitura de sacada.
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