terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Ao mar


O vento que bate agita sua roupa e seus cabelos. Aquela noite por algum motivo parecia bem mais longa que todas as outras que tinha vivido e sobrevivido e apesar de tudo o que havia passado nada ainda era suficiente. Tudo parecia ser tão cedo mesmo que o tempo não importasse. O caminho até o cais era longo e sinuoso, cheio de curvas e golpes de vista, graças a bebedeira que o abraçou forte durante toda a madrugada, ele retribuía da mesma maneira o abraço carregando uma garrafa quase vazia debaixo do braço.

E a dança era lenta, os passos, em falso e o barulho intermitente dos carros passando em cada rua que atravessava e não notava nada. Ele confiava no senso comum que diz que o divino cuida melhor de quem não está sóbrio. Pelo menos é o que ele pensa ou pensa que pensa nisso toda vez que bebe.

O cheiro de mar misturado ao de suas roupas que rescendiam não a álcool em si, mas a cigarro e a noite, pois a noite possui um perfume inebriantemente forte que é notado por todos aqueles que nos olham depois de três madrugadas seguidas: como se ela não quisesse que você fosse de mais ninguém porque ao contrário do dia, a noite é mulher de olhos penetrantes, de cabelos escuros, vestidos provocantes e ciúme eterno de quem a procura nem que seja por uma vez.

Depois de algumas esquinas, de muitos cruzamentos e de esvaziar a garrafa que trazia consigo, ele enfim chegou ao cais puxou do bolso do casaco um guardanapo amassado, uma caneta, se apoiou no parapeito que separa a terra do mar aberto e correu o traço em versos.

Não te conheço e às vezes não sei se quero ou se necessito conhecer e reconhecer teu rosto.
Não sei falar de amor, não vou a Copacabana, não gosto de salsa, o tempero.
Por mais ridículo que seja, sei que você vai achar esta garrafa com este meu bilhete. Só te peço um favor: não se faça de rogada, venha ao meu encontro.

Colocou o bilhete dentro da garrafa vazia e a arremessou com toda a força para dentro da água. Virou de costas e foi mais uma vez para os braços de quem lhe queria como posse.


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