segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Lap Dance
















A música é lenta, convidativa. Depois de um dia duro e de um mês de noites frias resolvo fazer algo novo e diferente que aqueça o coração e solte a mente junto a um gole a mais de qualquer coisa.

Sendo assim, existe coisa melhor que ir em busca de um amor maquiado? De alugar uma atenção qualquer?

O lugar foi escolhido aleatoriamente. A única preocupação era achar um lugar que eu pudesse entrar e sair vivo. Eu sabia o que queria: uma dança e uma bebida.

Obviamente nenhum destes estabelecimentos “de entretenimento interpessoal” são de fácil acesso, mas resolvi correr o risco. Saí do escritório mais tarde, desliguei o celular para que ninguém resolvesse me contatar àquela hora, nem mesmo a minha tia lá de Governador Valadares pudesse ter uma vontade estarrecedora de falar comigo e conseguir. Hoje não.

A decisão de para onde ir até que foi bem fácil. Uns trinta minutos de uma pesquisa rasa na internet me deu todas as informações que precisava. No verso do cartão de um cliente um endereço anotado e um nome Heaven Club. O nome me soava pouco ordinário, mas não no sentido de comum, mas de ordinário mesmo, pouco condizente com o lugar. Eu era um cliente desconfiado com o serviço que me seria oferecido.


Eis que estaciono o carro em uma rua transversal a do lugar, por motivos de pura lógica. Tirei relógio, corrente, aliança e deixei tudo dentro do porta-luvas. Saí do carro como se fosse um adolescente outra vez. Um homem de meia-idade, de terno e gravata escuros que deixava o rosa do neon do letreiro na parede fazer com que ele parecesse ainda mais misterioso, quase assustador, era quem cuidava da entrada.

Ele me balbuciou um boa noite e liberou a entrada da porta para que eu pudesse entrar. Não queria bancar o novato, empurrei a porta, ela dava num corredor longo e escuro só se via com nitidez a marca circular de luz moderada de dentro do salão. Abri a segunda porta com um ar decidido e dei de cara com um balcão e uma senhora, sim, uma senhora dos seus sessenta anos, mas em roupas um tanto ousadas. Ela logo foi me perguntando o que ia ser.

Fiquei meio sem ação, pois não esperava aquela sexagenária ali logo de cara. Ela repetiu a pergunta com muito menos paciência. Disse que queria uma bebida.

“Só a bebida?”

“Quanto é a dança?”

“Depende do que você vai querer.”

“Como assim?”

“A mais barata é sem contato algum, já a com contato é o dobro do preço: é R$ 100.”

Já que estava ali mesmo era melhor pedir o pacote completo. Seria só aquele dia mesmo, que fosse memorável. Ela me deu um cartão com um número, era o número da sala para onde eu deveria ir porque as salas de Lap Dance (era o que estava escrito no cartão) ficavam no fundo do clube.

Entrei na sala 6, era o que o cartão indicava. A sala rescendia a óleo de massagem e cigarro. A luz era ainda mais fraca que a do salão onde homens tinham conversas ao pé do ouvido ou dançavam de rosto colado com mulheres muito animadas e descontraídas que bebiam grandes quantidades de tudo o que se possa imaginar e talvez por isso eram animadas. O álcool faz dessas coisas.

Sentei na única cadeira que havia, afrouxei o nó da gravata e fiquei esperando o grande momento, até que uma música lenta e convidativa começou a tocar e não sei de onde surgiu uma morena de cabelos presos e com uma máscara que lhe cobria a região dos olhos. Ela tinha belos olhos e uma lingerie preta indefectível, com direito a cinta-liga e tudo mais.

A dança começou lenta, como a música e a uma distância segura. Abri o primeiro botão da camisa. Eu estava com calor, resolvi beber num gole só a cerveja que ainda restava na garrafa que havia levado para aquele espetáculo. Tinha valido cada centavo, com certeza. De repente, ela foi se aproximando, jogando os quadris para um lado e para o outro e virando de costas para que eu pudesse ver tudo, sem cortes.

Foi então que ela montou em mim e no ritmo da música, que já nem sabia se estava no mio ou no fim, foi afrouxando os cordões da máscara, lentamente... e foi aí que eu gelei, meu caro!

Quando ela tirou a máscara eu perdi o fôlego.

“Oi, amor... Nem avisou que ia chegar tarde em casa... Eu tinha pedido para você passar na lavandeira e pegar o vestido da mamãe!”

É por isso que eu estou aqui, doutor, para encaminhar os papeis. Quero o divórcio.






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