A época natalina sempre deixou Denilson tocado. Era coisa que
o acompanhava desde criança, para ele, era mais do que especial ter a casa
cheia de gente, a árvore repleta de presentes, estar perto de seus familiares e
que todos estivessem alegres e ali para comer, beber e sorrir. Ele adorava
comprar presentes, encher a casa de luzes e fazia questão de cuidar junto com a
esposa de todos os preparativos da grande noite.
Dezembro chegou e com ele a proximidade dos dias mais
importantes para o bancário que mais investia em Natal dentro de toda a rede do
Banco Regional. Para alguns já era até piada, mas Denilson não se importava e
ante as pilhérias dos amigos trazia para o trabalho um mini pinheiro e o posicionava
em sua mesa para que todos pudessem ver.
Uma noite, após terminar a instalação das luzes na frente de
sua casa, Natalino (sim, esse já era o seu apelido de longa data), foi dormir antes
de sua mulher. Ele estava satisfeito porque seus projetos estavam dando certo
mais um vez. Assim que desligou o interruptor de luz Denilson deu um pulo da
cama quando viu um clarão se formar em frente a sua cama.
“......e-e-eu-c-como assim?! Quem é você??”
“Ah não! Toda vez as mesmas perguntas! Vocês não conseguem
inventar outro tipo de resposta sem que seja perguntando de volta? Ok. Eu tenho
muitos nomes, mas agora me chama de Mitra. Digamos que é o meu nome da semana.
Se nunca ouviu falar de mim procura no Google ou YouTube, tem um pessoal que me
acha bem popular lá. Tem gente que até acredita que um outro cara que nasceu no
mesmo dia que eu sou eu. Mas também acham que ele não era cabeludo, não era
branco e não era uma pessoa legal. Nossa! Cansa só de ouvir toda essa
contradição! Hahaha”
Denilson, mal conseguia enxergar porque o brilho em volta de
Mitra era muito forte, mas pior era o sentimento de atordoamento e
incredulidade. O que afinal de contas estaria acontecendo e o que aquela coisa
queria?
“Não me machuca! Meu Deus, me salva!”, gritou ele num estado
quase desesperador.
“Calma, Denilson... Calma, meu!! Caaaaalmaaaa!”, gritou de
volta o jovem de cabelos dourados e roupa que se assemelhava a de um soldado
romano. “Eu vim aqui pra te pedir um favor. Eu só posso pedir um favor por ano
a alguém, não me faz ter perdido um ano inteiro, meu querido! Respira, ok? "
“O que você quer?”
“Quero que você me ajude a recolocar o festival em honra a
mim (apontando para si com os polegares) na data certa mais um vez. O que seria
daqui a dois dias (25 de dezembro). Em troca, você ganha um flat no Monte Hara,
que é o equivalente a um Alphaville nos céus, por toda a eternidade. Você tem
um ano pra recolocar isso nos eixos. Já perdi muito tempo e ando perdendo
popularidade. Fora da internet ninguém mais me conhece. Meu, eu sou o sol do
mundo novo. Trago luz pra essa joça e como assim viro um zé?”
Enquanto a aparição falava, Denilson tentava lembrar de
todas as orações possíveis. Faltava memória.
“Eu nunca ouvi falar de você, Seu Mirra.”
“Aff... Mitra.”
“Isso. E Natal é outra coisa. É o nascimento de Cristo. Todo
o mundo sabe disso.”, protestou o bancário.
“Eu sei, eu sei que eu demorei um pouco aí pra realmente
tomar uma atitude, digamos, efetiva, mas agora eu tô aqui pronto para virar
este jogo e retomar o que é meu por direito. É a minha data, Denilson. Imagina
só, se alguém roubasse o teu aniversário, tipo, pra sempre. Tu ia gostar?
Hein?... Claro que não.”
“E como eu faria isso?”
“Tenho alguns planos para melhorar a minha imagem. Primeiro:
ninguém compra mais presente. Sem troca de presente. Eu tenho uma equipe que fez
uma pesquisa e cheguei a conclusão que isso não condiz muito com a minha
imagem. Talvez uma troca de insenso, de uns tecidos bonitos e mais nada. Outra
coisa, que eu gostei e a gente pode manter é a coisa das luzes. Gosto disso e
tem a ver comigo. Luzes nas casas, nas ruas, luzes pra sempre!”
“Você tá de brincadeira. Só pode...”
“Não, Denilson. Eu só estou aqui jogando ideias. É um Brainstorm.
Fica bem à vontade para dar as tuas sugestões. Estive pensando num nome, uma
coisa mais moderna e que, é claro, remeta à minha pessoa: Mitral. Aí as pessoas
se desejariam ‘Feliz Mitral’. E aí? Você tá muito calado, cara! Me ajuda aqui,
por favor!”
De repente, a luz do quarto acendeu e assim que Elisângela
apareceu na porta Denilson correu assustado para fora do quarto, da casa e
ganhou a rua para tomar fôlego. A mulher conseguiu alcança-lo, intrigada e sem
entender nada.
“O que houve, homem do céu?”
“Acho que ando exagerando no Natal, amor.”
Compraram passagens e embarcaram para o nordeste no outro
dia. Deixando todos os convidados desapontados sem a grande festa de Natalino.
Feliz Mitral. Feliz Natal.
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