domingo, 17 de março de 2013

Café


Tudo o que eu preciso agora é de um café quente e de uma caminhada na rua fria.

A sala já não me comporta mais. A televisão não entretém. Nem o ópio do futebol me mantém.

O casaco está no cabide e as chaves no bolso.  Me visto com uma pressa de quem realmente estaria perdendo algo importante. Mas é domingo e dias assim nunca são importantes para todo mundo a não ser que seja Dia dos Pais, Mães ou Páscoa. Hoje não é nada disso.

Não penso ao colocar a chave na porta de casa, destravar o trinco e ganhar a rua. Logo na saída, senti o arrependimento de quem não pegou um cachecol, pois o vento era cortante e frio, tal qual o olhar dos meus vizinhos ou da Marcinha, meu desamor da sétima série que algum tempo depois descobri não ser a única com essa capacidade congelante.

Passo após passo eu olho as fachadas dos prédios. Elas me lembram qualquer cidade fantasma de qualquer livro que já foi ou ainda será escrito

Não há barulho porque todos estão tão atarefados com suas modorrices que esquecem que são parte da vida desse lugar. Dobro a esquina da quadra onde moro. O café mais gostoso desse bairro fica logo à frente.

Sou pego de surpresa ao perceber que hoje o bar não abriu. Quê será que aconteceu?  

Ao caminhar mais um pouco, fui abordado por um senhor de barbas brancas que me pediu fogo. Respondi que não tinha e fui provavelmente xingado em um idioma que não conheço. Mesmo sem entender, o ataque não foi bonito nem educado.

Após experimentar o azedume dominical do meu bairro, e sem nenhum café, me dirijo de volta para casa. 

Minha garganta incomoda e lembro de novo do meu cachecol e penso como essa expedição seria mais fácil com ele.

Seguindo pela calçada sinto um aroma forte. É café. Mas não me espanto e sigo em frente rumo a minha casa.

Entro. Ligo o rádio e abro um pacote de balas...de café.

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