Tudo o que eu preciso agora é de um café quente e de uma
caminhada na rua fria.
A sala já não me comporta mais. A televisão não entretém. Nem
o ópio do futebol me mantém.
O casaco está no cabide e as chaves no bolso. Me visto com uma pressa de quem realmente estaria
perdendo algo importante. Mas é domingo e dias assim nunca são importantes para
todo mundo a não ser que seja Dia dos Pais, Mães ou Páscoa. Hoje não é nada
disso.
Não penso ao colocar a chave na porta de casa, destravar o
trinco e ganhar a rua. Logo na saída, senti o arrependimento de quem não pegou
um cachecol, pois o vento era cortante e frio, tal qual o olhar dos meus
vizinhos ou da Marcinha, meu desamor da sétima série que algum tempo depois
descobri não ser a única com essa capacidade congelante.
Passo após passo eu olho as fachadas dos prédios. Elas me
lembram qualquer cidade fantasma de qualquer livro que já foi ou ainda será
escrito
Não há barulho porque todos estão tão atarefados com suas
modorrices que esquecem que são parte da vida desse lugar. Dobro a esquina da
quadra onde moro. O café mais gostoso desse bairro fica logo à frente.
Sou pego de surpresa ao perceber que hoje o bar não abriu.
Quê será que aconteceu?
Ao caminhar mais um pouco, fui abordado por um senhor de
barbas brancas que me pediu fogo. Respondi que não tinha e fui provavelmente
xingado em um idioma que não conheço. Mesmo sem entender, o ataque não foi
bonito nem educado.
Após experimentar o azedume dominical do meu bairro, e sem nenhum
café, me dirijo de volta para casa.
Minha garganta incomoda e lembro de novo do
meu cachecol e penso como essa expedição seria mais fácil com ele.
Seguindo pela calçada sinto um aroma forte. É café. Mas não
me espanto e sigo em frente rumo a minha casa.
Entro. Ligo o rádio e abro um pacote de balas...de café.
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