De todas as características de Pedro, a principal, que
sempre o acompanhou, era a sorte.
Desde o início de sua adolescência, ele já havia ganhado
inúmeros concursos, sorteios, rifas escolares e brindes de feiras de igreja.
Toda a sua família comentava da incrível sorte do menino. Coisa de outro mundo,
que parecia não ter fim. Parecia mesmo.
Sabe aquelas coisas que só acontecem em filme? Andar nas
ruas e encontrar cédulas já era o trivial para ele. Em sua casa, ele acumulava
prêmios. O quarto de Pedro foi mobiliado graças a uma boa quantia em dinheiro vinda
de uma raspadinha. Daquelas que todo mundo tenta, mas que ninguém consegue nada
por achar ridículo demais e improvável demais.
O sortudo achava tudo isso o máximo, embora essa sua maré
cheia fosse segredo de estado entre seus familiares.
Escapou de acidentes. Nunca ficava doente e, no máximo,
tinha uma gripe aqui outra ali. A sorte
era muito grande.
Ganhou uma viagem de presente em um concurso de redação. Não
enviou a tempo seus escritos, mas seu cadastro foi sorteado inexplicavelmente. Em
função disso, foi conhecer São Paulo com as despesas pagas e ainda foi
apresentado ao mais novo semi-escritor conhecido da atualidade. Que alegria!
Mas igual a todas as coisas quando superexpostas e
superexploradas, elas vão gastando e se tornando comuns. Pedro começou a achar
aquela coisa de sempre ter sorte muito chata, pois quando ouvia as pessoas
falarem de azar não sabia o que dizer ou pensar porque nunca tinha passado nem
perto da falta de sorte, mesmo que mínima. Um dia começou a pensar em um jeito
de pescar o azar, nem que fosse à unha.
Foi para a Internet. Tentou pesquisar em ‘simpatias’, mas
geralmente elas são para obter sorte, não o oposto. Estava difícil. Não achava
saída para conseguir sentir o gostinho do azar.
Após muitas tentativas e considerações sobre como fazer para
não ser mais tão afortunado, o desespero começou a tomar conta do rapaz. Como
último recurso, resolveu atravessar a avenida mais movimentada da cidade sem
olhar para os lados e em alta velocidade.
O resultado veio em forma de lógica e em forma de ônibus
sentido bairro-centro.
O acelerador do coletivo falhou e o quase azarado teve
escoriações leves.
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