domingo, 3 de março de 2013

Sorte


De todas as características de Pedro, a principal, que sempre o acompanhou, era a sorte.

Desde o início de sua adolescência, ele já havia ganhado inúmeros concursos, sorteios, rifas escolares e brindes de feiras de igreja. Toda a sua família comentava da incrível sorte do menino. Coisa de outro mundo, que parecia não ter fim.  Parecia mesmo.

Sabe aquelas coisas que só acontecem em filme? Andar nas ruas e encontrar cédulas já era o trivial para ele. Em sua casa, ele acumulava prêmios. O quarto de Pedro foi mobiliado graças a uma boa quantia em dinheiro vinda de uma raspadinha. Daquelas que todo mundo tenta, mas que ninguém consegue nada por achar ridículo demais e improvável demais.

O sortudo achava tudo isso o máximo, embora essa sua maré cheia fosse segredo de estado entre seus familiares.

Escapou de acidentes. Nunca ficava doente e, no máximo, tinha uma gripe aqui outra ali.  A sorte era muito grande.

Ganhou uma viagem de presente em um concurso de redação. Não enviou a tempo seus escritos, mas seu cadastro foi sorteado inexplicavelmente. Em função disso, foi conhecer São Paulo com as despesas pagas e ainda foi apresentado ao mais novo semi-escritor conhecido da atualidade. Que alegria!

Mas igual a todas as coisas quando superexpostas e superexploradas, elas vão gastando e se tornando comuns. Pedro começou a achar aquela coisa de sempre ter sorte muito chata, pois quando ouvia as pessoas falarem de azar não sabia o que dizer ou pensar porque nunca tinha passado nem perto da falta de sorte, mesmo que mínima. Um dia começou a pensar em um jeito de pescar o azar, nem que fosse à unha.

Foi para a Internet. Tentou pesquisar em ‘simpatias’, mas geralmente elas são para obter sorte, não o oposto. Estava difícil. Não achava saída para conseguir sentir o gostinho do azar.

Após muitas tentativas e considerações sobre como fazer para não ser mais tão afortunado, o desespero começou a tomar conta do rapaz. Como último recurso, resolveu atravessar a avenida mais movimentada da cidade sem olhar para os lados e em alta velocidade.

O resultado veio em forma de lógica e em forma de ônibus sentido bairro-centro.

O acelerador do coletivo falhou e o quase azarado teve escoriações leves.  

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