Era uma vez uma cidade.
Uma cidade como outra qualquer. Com as coisas que todas as
cidades tem em comum.
Sejam elas boas ou ruins. Era assim. Não muito diferente à
primeira vista.
Fora a sua usina elétrica. Ah, essa sim era muito
interessante, pois nessa cidade não havia luz se não houvesse alegria e risos o
suficiente para abastecer em um nível suficientemente bom o reservatório onde
tudo era convertido em energia elétrica.
Nova Esperança era uma cidade que não ria. Quando muito, ria
amarelo como quem ri para não perder o amigo. Então, o prefeito, ex-palhaço de
circo, resolveu investir pesado em um jeito de ver o seu povo mais alegre e sem
perder de vista os futuros votos da próxima eleição. Buscou os melhores
artistas: Palhaços, malabaristas, equilibristas, ventríloquos e comediantes.
Custeava shows todas as noites. Tudo regado a muita comida e bebida. Os
esperançosos ficaram surpresos com a iniciativa.
“Isso sim que é incentivo a cultura e ao bem-estar”, muitos
diziam. Outros ainda exaltavam a bondade do prefeito e a sua preocupação com as
crianças, que adoravam todo aquele clima.
Enquanto isso os reservatórios da usina transbordavam os
níveis de alegria. Em cada palco em que aconteciam as apresentações, captadores
eram posicionados estratégicamente como se fossem receptores de som. Eles
‘sugavam’ a alegria e os risos do público e os enviavam por tubulações
subterrâneas para o processo de conversão em eletricidade.
O sucesso da decisão foi estrondoso. Imprensa e governantes
de muitas cidades da região vieram ver se era possível se espelhar no projeto
de Nova Esperança. O prefeito, no entanto, não se mostrava muito solícito em
ajudar seus visitantes, nem em dar dicas de como isso seria feito em outros
lugares.
“Creio que não seria possível eu deixar todo o meu segredo
para vocês”, afirmava ele entre risos sem graça.
Os homens saiam intrigados e contrariados da visita
diplomática. De mãos vazias e com a curiosidade cheia. Querendo saber mais sobre
aquele sistema e por que não encontravam colaboração para reproduzir o projeto.
Ninguém pagava conta de luz. A alegria era de todos e devia
ser compartilhada, assim, de graça. Era o que diziam os outdoors na entrada da
cidade. Ganhou o apelido de “Cidade-sorriso”. Quem diria!
Para afastar ainda mais o risco de um dia voltar a
contribuir com tarifas de energia, os esperançosos toparam a proposta do
prefeito de instalar captadores de riso em domicílio. Não
pensaram duas vezes.
A instrução era que os moradores pusessem os aparelhos, bem
menores que os utilizados nos shows diários, na peça da casa em que mais
passavam tempo. Assim, seria mais fácil obter a energia necessária.
Tudo sairia perfeito a não ser por um problema. Os
esperançosos se acostumaram com todo aquele entretenimento e, por alguma razão,
ele já não satisfazia.
Aos poucos, a cidade começou a não encher mais seus
reservatórios de riso e alegria e já não era raro Nova Esperança sofrer apagões
bem na hora do beijo apaixonado da novela ou da revelação de quem tinha matado
quem. O que deixava muita gente irritada e, portanto, longe do objetivo
inicial.
Os bondes e trens já não funcionavam. O prefeito não dormia
mais pensando em uma maneira de resolver o problema
Sua oposição partidária fazia duras críticas ao seu governo
citando suas ‘irresponsabilidades para com o povo esperançoso’ aos quatro
ventos.
Pouco tempo depois, foi destituído do cargo e a usina foi
fechada e substituída por equipamentos comuns.
Isso é uma história antiga, mas ainda hoje é possível ver o
ex-prefeito fazendo malabarismos e apresentações em alguns clubes. A única
exigência que ele faz é a placa na frente do estabelecimento.
“Acende-se a luz do sorriso.”
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