quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ponto cego



Em tudo o que vemos, sempre há algo que não enxergamos ou não damos tanta atenção. Parece que não são somente os retrovisores dos carros que possuem essa capacidade ignorativa.

Passava todos os dias pelos mesmos lugares. Coisa de rotina. Via as coisas que via, sem mais. Sempre fiz mais o que precisava do que o que realmente queria. Aquela loja nunca fez parte do meu itinerário.

A rua eu já conhecia de olhos fechados. As calçadas, ladrilhos, placas de anúncio e janelas, também. A livraria era só mais uma.

Existem pessoas que passam e pessoas que ficam. Clichês à parte, eu sou desses caras que passam, muito apressados. Ser criado na cidade causou esse efeito em mim. Cafés, cigarros, jornais e muito trabalho. Um saco.

Lembro que um dia vindo do trabalho e lendo alguns anúncios no jornal enquanto caminhava esbarrei em uma moça. Fiquei bem preocupado, mas ela parecia bem. Quase não me olhou. Só fugiu. Cidade é lugar de gente esquisita mesmo!

Todos os dias vejo ele passar por volta das cinco e meia. Às vezes vestido com mais formalidade, outras não. Nunca falei com ele, mas o ver passar me faz sentir bem.

Não trabalho nessa livraria. Gosto de vir aqui porque gosto de ler e os horários da minha vinda para olhar as novidades acabam coincidindo com a hora dele cruzar a rua. Ok, eu assumo. Vou para as prateleiras da frente da livraria, perto da porta, para vê-lo mais de perto.

Outro dia, vi que precisava usar mais meus óculos da pior maneira. Estava saindo da livraria desatenta. Procurava o cartão do estacionamento. Não percebi que alguém vinha na mesma direção e em rota de colisão comigo. Só senti a batida. Estava envergonhada demais e míope demais para ver o acidente. Só depois que tinha passado, vi que era ele. Amanhã volto à livraria.

     

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