Sinto um sobressalto que pula de dentro do meu peito, como
se tivesse saído de um carro em alta velocidade. Sensação de sair de um túnel
muito escuro e, de repente, vir para a claridade intensa.
É o que sinto toda vez que o meu despertador toca pela
manhã. Quanto a isso, não há o que ser feito. Já comprei vários relógios
diferentes, com toques diferentes, mas o trinado do despertador me desconcerta.
Já nem me dou mais ao trabalho de olhar para o lado. Apenas
saio da cama sentindo a dormência que reclama mais alguns minutos de sono
tranquilo, mas não dá mais. Preciso sair.
Água no rosto, escovas de dente... preciso jogar essa antiga
fora. Toalha, chuveiro, roupa, café amargo demais, jornal, chaves de casa,
porta da rua, muita chuva.
Ao olhar para a porta lembro que não tenho um guarda-chuva
no momento e que não irei conseguir um antes de chegar perto do trabalho, ou
seja, é inútil insistir tentando ficar seco.
Quatro quadras. Essa foi a distância exata que caminhei, já
ensopado, até sentir que a chuva tinha parado de súbito. Não tinha notado a
sombra por sobre minha cabeça. Era um guarda-chuva aberto e uma desconhecida ao
lado.
A carona apesar de um pouco tardia, foi oportuna. Porque
tinha certeza que alguns dias depois tudo aquilo iria me levar para a cama. O que realmente aconteceu. Foram dois dias quentes e inesquecíveis na companhia
da gripe e da febre.
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