terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Papo de bar
Numa sexta-feira pra lá de comum, Jonas se dirigiu ao bar do Maneco, o botequim mais aconchegante (e mais limpo) da cidade. Fazia isso com mais frequência do que ia à Igreja porque, segundo ele, no dia em que servissem chopp na Igreja, ele largaria de imediato as dependências do Maneco's e se tornaria o cara mais assíduo da missa.
Chegando lá encontrou o Nelson, amigo de infância, adolescência e cúmplice das suas crises. Após abraços e tapinhas nas costas, os dois sentaram e, do nada, o Nelson caiu no choro.
"Que isso, rapaz? Que tá havendo?" - Diz o Jonas que até esqueceu de pedir o primeiro copo ao garçom.
"É muita coisa, cara! Tá tudo errado"- Afirmou o Nelson, com as mãos no rosto.
Esse choro devia ter nome: Bibi. Com certeza era por causa dela que ele tinha desabado.
"O que a Bibi aprontou dessa vez, Nelson?"
"Não é nada com ela. Até tem a ver...(sempre tinha). Eu queria dar um presente legal de aniversário pra Bibi. Uma coisa, sei lá, especial. Uma vez ela me disse que nunca tinha visto o mar. Resolvi conseguir um carro com um conhecido que aluga carros e levar ela à praia.
"E..."
"Roubaram o carro. Agora esse meu conhecido quer que eu pague pelo roubo."
"Mas isso é loucura!"
"Eu sei, mas ele disse que não tem outra solução e que se eu não pagar ele vai pôr uns caras na minha cola. Jonas, eu tô ferrado, meu!"
"Calma, Nelson. Vamo dá um jeito nisso. Vamo pra polícia e daí a gente..."
"Não, polícia, não!"
Jonas estranhou a reação do amigo e perguntou o porquê da recusa. Foi quando ouviu algo que o estremeceu.
"Cara, eu sou procurado pela justiça. Mas, pelamor, não vai me contar isso pra ninguém."
"Como assim procurado? Tu matou alguém? Tu nunca foi disso! Te conheço desde que éramos crianças." - Sussurrou Jonas.
A justificativa de Nelson foi tragicômica.
"Lembra da época que tu viajou a trabalho? Eu também viajei. Fui seguir o meu sonho. Nunca contei pra ninguém, mas eu sempre quis ser mágico. Comprei vários kits caseiros, vi muitos tutoriais na Internet durante os intervalos do trabalho e numa dessas convenções de ilusionismo conheci a Bibi, que era assistente dum mágico uruguaio, o 'El misterioso'. Me apaixonei por ela assim que a vi. O jeito que a Bibi serrava aquelas caixas no número de separação de corpos me deixava louco. Aprendi um pouco, fiz uma proposta dela trabalhar comigo e seguimos Brasil afora com o meu próprio show. Foi aí que os problemas começaram. Iniciamos com shows pequenos, aniversários e festinhas de escola. As mágicas não funcionavam. Eu me atrapalhava todo. As pessoas me vaiavam e os donos das festas queriam a devolução da grana. Como a gente não devolvia porque não tinha como, eles me processavam. Por isso não posso nem pisar numa delegacia."
Naquele ponto da história, Jonas já tinha tomado o seu terceiro chopp e comido uma meia dúzia de ovos de codorna. Claro, que estarrecido com tudo aquilo.
"Cara, que coisa! Mas se a gente não pode denunciar o roubo e o dono da locadora de automóveis pra ninguém, o quê vamos fazer?"
Foi então que Nelson teve a ideia de sua redenção. Treinou muito, comprou roupas novas, conseguiu equipamentos, um salão e fez o show que valia a sua vida. Foi muito aplaudido por todos os frequentadores do Maneco's. Pagou a dívida e levou Bibi para ver o mar. Sem truques.
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