Ela passa todo dia por aqui. Eu só posso ficar olhando, pois
não tenho como sair. Coisas do trabalho. E de qualquer maneira, demoraria muito
até eu pegar o elevador, descer esses 15 andares, vencer a minha
timidez e alcançá-la só pra dizer um mísero “oi”. Acho isso arriscado e
cansativo demais. Nessas horas eu gostaria de poder entrar no pensamento das
pessoas. Seria muito útil.
Vestido florido, bolsa a tiracolo, cabelos crespos, daqui,
pelo menos, parece que são. Nesse momento penso “Nunca acredite nas crespas,
elas não tem coração.”, acho que um amigo me falou um dia. Deve ser despeito
dele ou algum tipo de tentativa de fazer filosofia barata. Daqui de cima ela
nem parece tão má assim.
Ela deve se chamar Rute. Não, muito nova para esse nome. Então
certamente se chama Brenda. Isso! Tem cara e jeito de Brenda.
Brenda passa duas vezes por dia nessa rua. Deve ser na ida e
na volta do trabalho. Ela deve ter família grande, é, tem sim. Daquelas que se
reúne todo final de semana e faz bagunça. Tem um avô que gosta de ouvir jogos
de futebol com o rádio colado no ouvido. Uma avó que é um doce e que faz tricô
super bem. É filha única, mas tem muitos primos.
Meus colegas do setor já acham graça e me avisam quando o
relógio bate perto das quatro, para eu ir para a janela e a piada ser mais
completa.
Vou criar coragem e ir falar com ela. Semana que vem eu vou.
Juro.
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