quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Blues



Prendi a respiração para tentar passar pelo tempo. Tentando que ele não me visse. Para o momento não passar. Queria que o tempo fosse menos onipresente.

Tento disfarçar a emoção. Por trás da cortina consigo ver as luzes do palco e o burburinho das pessoas que esperam para me ver.

A banda está a postos atrás de mim. Todos confiam no meu trabalho, até demais.

Não sei por que coloquei esse terno. É verão e faz um calor incomum para este lugar   

É meu show de estréia e um nervosismo começa a tomar conta de mim. Espero conseguir tocar essas malditas cordas direito.

“E com vocês, a revelação da música do Mississipi...”. Assim fui anunciado enquanto as cortinas enfim, se abriam.

Chamou a minha atenção não o salão cheio, mas apenas um lugar vazio. Uma cadeira aveludada encostada ao lado de uma mesa redonda, pequena, com uma longa toalha de veludo vermelho. Em cima dela, pratos, talheres e copos vazios. Assim como também estava vazia a minha caixa de e-mails e a secretária eletrônica.

O calor se transformou rapidamente em frio na barriga. Quis largar tudo e beber uma boa dose da bebida mais forte do bar.  

Mas já era hora de esquecer tudo. Olhei para o lado e o meu empresário estava com uma cara que parecia me perguntar porque eu ainda não estava tocando.

Já era hora. Pois ninguém sai disso tudo sem cantar um bom de um blues.

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