Prendi a respiração para tentar passar pelo tempo. Tentando
que ele não me visse. Para o momento não passar. Queria que o tempo fosse menos
onipresente.
Tento disfarçar a emoção. Por trás da cortina consigo ver as
luzes do palco e o burburinho das pessoas que esperam para me ver.
A banda está a postos atrás de mim. Todos confiam no meu
trabalho, até demais.
Não sei por que coloquei esse terno. É verão e faz um calor
incomum para este lugar
É meu show de estréia e um nervosismo começa a tomar conta
de mim. Espero conseguir tocar essas malditas cordas direito.
“E com vocês, a revelação da música do Mississipi...”. Assim
fui anunciado enquanto as cortinas enfim, se abriam.
Chamou a minha atenção não o salão cheio, mas apenas um
lugar vazio. Uma cadeira aveludada encostada ao lado de uma mesa redonda,
pequena, com uma longa toalha de veludo vermelho. Em cima dela, pratos,
talheres e copos vazios. Assim como também estava vazia a minha caixa de
e-mails e a secretária eletrônica.
O calor se transformou rapidamente em frio na barriga. Quis
largar tudo e beber uma boa dose da bebida mais forte do bar.
Mas já era hora de esquecer tudo. Olhei para o lado e o meu
empresário estava com uma cara que parecia me perguntar porque eu ainda não
estava tocando.
Já era hora. Pois ninguém sai disso tudo sem cantar um bom
de um blues.
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