sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O bloco


Mesmo após anos de muito sacrifício e desfiles, Seu Joca não perdia uma saída do seu “bloco de estimação”, como ele mesmo gostava de brincar quando se referia ao “Seresteiros”, que só não virou grupo carnavalesco porque o pessoal do bairro ao lado resolveu fazer sua própria escola, nutrindo um sentimento de competição entre o bloco e a escola de samba.

Isso foi há algum tempo. Seu Joca nem usava bengala ainda. Para ele, isso foi um divisor de águas importante em sua vida, um dos vários que ele carrega em sua memória.

O primeiro emprego que teve, como ajudante do leiteiro, seu casamento e sua separação alguns anos depois, seus filhos, que vieram depois da separação, mas são todos dele. Em sua cabeça, nunca houve espaço para a dúvida quanto à isso. Seu Joca era um homem de coração grande e mole.

Ainda tinha a mesma sensação de quando era mais jovem quando estava junto do Seresteiros. As dores naturais que o tempo traz passavam e só importava o toque dos bumbos, chocalhos e metais e o canto do povo.

Joca tinha um par de sapatos especiais pros dias de carnaval. Bicolores, que ficavam em uma caixa separada dos calçados usados nos dias comuns e retirados dela com extremo cuidado quando necessário.

No meio do bloco, daquela multidão em êxtase, Seu Joca sentiu que tudo era pleno, a alegria era plena e que todos os desgostos da vida eram irrelevantes se comparados aos risos daquela gente. Mesmo ele, se sentia jovem e forte outra vez. Esqueceu a bengala e foi saindo, saindo...

Sempre sambando.

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