Mesmo após anos de muito sacrifício e desfiles, Seu Joca não
perdia uma saída do seu “bloco de estimação”, como ele mesmo gostava de brincar
quando se referia ao “Seresteiros”, que só não virou grupo carnavalesco porque
o pessoal do bairro ao lado resolveu fazer sua própria escola, nutrindo um
sentimento de competição entre o bloco e a escola de samba.
Isso foi há algum tempo. Seu Joca nem usava bengala ainda.
Para ele, isso foi um divisor de águas importante em sua vida, um dos vários
que ele carrega em sua memória.
O primeiro emprego que teve, como ajudante do leiteiro, seu
casamento e sua separação alguns anos depois, seus filhos, que vieram depois da
separação, mas são todos dele. Em sua cabeça, nunca houve espaço para a dúvida
quanto à isso. Seu Joca era um homem de coração grande e mole.
Ainda tinha a mesma sensação de quando era mais jovem quando
estava junto do Seresteiros. As dores naturais que o tempo traz passavam e só
importava o toque dos bumbos, chocalhos e metais e o canto do povo.
Joca tinha um par de sapatos especiais pros dias de
carnaval. Bicolores, que ficavam em uma caixa separada dos calçados usados nos
dias comuns e retirados dela com extremo cuidado quando necessário.
No meio do bloco, daquela multidão em êxtase, Seu Joca
sentiu que tudo era pleno, a alegria era plena e que todos os desgostos da vida
eram irrelevantes se comparados aos risos daquela gente. Mesmo ele, se sentia
jovem e forte outra vez. Esqueceu a bengala e foi saindo, saindo...
Sempre sambando.
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