O balanço do navio não me
afeta mais. Já estou nisso há tempo suficiente para conseguir controlar as
reviravoltas do meu estômago. O mesmo não acontece com o garoto que tenta
dormir na cama ao lado da minha. Esses novatos...
Estamos em pleno mar.... Não.
Isso é cópia barata de frase dos outros, mas não imagino outro jeito de começar
a escrever.
Nasci pobre, em uma cidade
onde mar era uma palavra quase tão distante quanto ele próprio. Uma cidade onde
quase não chovia. Uma cidade onde o sol banhava tudo quase todo o tempo. O
clima era quente. Tão quente quanto os ânimos das famílias que viviam em guerra
pelo domínio do território e das plantações.
Sobrava terra, mas faltava
espaço para mim que pensava muito em conhecer o mundo, ou o que desse para
conhecer dele. Cresci. Perdi o pouco de família que ainda me restava e com
isso, resolvi soltar minhas amarras daquele lugar seco.
A primeira viagem de toda a
minha vida foi ao litoral. Lá conheci um velho de barba rala, pele queimada e
marcada “pelo vento e pela solidão que vem da maresia”, segundo ele mesmo
gostava de repetir num tom teatral. Chamava-se Salomão. Tinha um barco e muitos
amigos.
Logo virei um deles e a
convite do próprio Salomão virei tripulante do barco sob promessas de “viajar
pelo mundo”, “ver a natureza e interagir com ela”, “experimentar comidas
exóticas” e “conhecer novas pessoas”.
Confesso que achei tudo muito tentador na
época. Isso há cinco anos.
Hoje, quando lembro as
frases dele e dos seus amigos vejo: comida ruim, tempestades em alto mar,
alguns lugares que nem são tão bons assim, prostitutas feias e homens bêbados.
É a vida, mas não tenho tanto do que reclamar. Coleciono belas vistas, amores,
desamores e dinheiro que pegamos de barcos abandonados. Boa parte disso a
serviço “De La Reina”, a liberdade.
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