Sinto o sol tímido da manhã bater em meu rosto. Acordei cedo
e nem estou atrasado para o trabalho, o que é um milagre.
Sinto que ainda tenho tempo de tomar um café razoavelmente
sossegado.
Entro no bar de paredes e piso brancos. O cheiro de fritura
me faz lembrar de tudo o que ainda preciso fazer até às seis da tarde. Mas
melhor não pensar nisso agora. Preciso de uma xícara ou duas de café antes de
encarar tudo isso.
Todas as mesas do bar têm tampo de vidro. Provavelmente são
assim para facilitar a limpeza.
Para economizar tempo.
Abro o jornal. Nele estão algumas notícias requentadas.
Estamos numa época do ano, ou da vida, em que nada parece ser realmente novo. Olho
as fotos com atenção. Talvez nelas eu entenda boa parte da notícia e assim não
precise ler. Sim, sou um leitor de meia-tigela!
Olho para o relógio. Ainda me resta algum tempo. Resolvo pedir
o café a garçonete de olheiras marcantes.
Olheiras de quem tem um mundo nas
costas e que já não liga direito para o que faz.
Talvez ela nem tenha tempo de ver a família, ou não teve
tempo de formar e cultivar uma...
Ou eu mesmo esteja com tempo de sobra pensando nisso tudo.
O café está melancolicamente ruim. Não quero perder mais meu
tempo aqui.
Não há mais tempo pra isso.
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