Dizem que as pedras dos caminhos estão onde estão por um propósito. Ele não pensa nisso enquanto caminha pelo calçamento que remete a um passado que ele ao ouviu a respeito. Só pensa que está muito atrasado. Entra no prédio e aperta repetidas e nervosas vezes o botão do elevador.
O atraso o fez correr. Carrega nas mãos o que há alguns minutos atrás ainda era um buquê de rosas, mas tal como as mulheres, as rosas não sobrevivem a desesperos e sobressaltos. Mesmo assim, ele ainda aposta que pode apresentar o que restou das rosas a ela.
Tocando Chico Buarque em um vinil antigo, ela passa o olhar
impaciente entre a janela, o relógio e a porta enquanto mexe no cabelo.
Questiona o porquê dele sempre chegar depois do horário combinado. Será que se
perdeu no caminho? Será que alguém o fez se perder no trajeto?
Afoito, entra no elevador. O nó da gravata incomoda e
afrouxá-lo já é quase uma questão de sobrevivência. Qual é o número do
apartamento mesmo? 408? Por que esse
elevador é tão lento?
Em meio às perguntas, uma mensagem de texto: “Tá tudo bem?
Vai demorar?” Onde era possível ler: “Tá morto ou resolveu não vir?”
Duas batidas na porta e um som ofegante do outro lado.
Agora, o olho mágico era a única coisa que os separava e que impedia o encontro
e tudo o que o rodeia.
O atraso já não era importante e nem mesmo a mensagem cheia
de segundas intenções. Voltaram pelo mesmo caminho e pelas pedras que estava
ali para esperá-los.
A vitrola ainda tocava Chico. “
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