domingo, 24 de fevereiro de 2013

Clichê


Dizem que as pedras dos caminhos estão onde estão por um propósito. Ele não pensa nisso enquanto caminha pelo calçamento que remete a um passado que ele ao ouviu a respeito. Só pensa que está muito atrasado. Entra no prédio e aperta repetidas e nervosas vezes o botão do elevador.

O atraso o fez correr. Carrega nas mãos o que há alguns minutos atrás ainda era um buquê de rosas, mas tal como as mulheres, as rosas não sobrevivem a desesperos e sobressaltos. Mesmo assim, ele ainda aposta que pode apresentar o que restou das rosas a ela.

Tocando Chico Buarque em um vinil antigo, ela passa o olhar impaciente entre a janela, o relógio e a porta enquanto mexe no cabelo. Questiona o porquê dele sempre chegar depois do horário combinado. Será que se perdeu no caminho? Será que alguém o fez se perder no trajeto?

Afoito, entra no elevador. O nó da gravata incomoda e afrouxá-lo já é quase uma questão de sobrevivência. Qual é o número do apartamento mesmo?  408? Por que esse elevador é tão lento?

Em meio às perguntas, uma mensagem de texto: “Tá tudo bem? Vai demorar?” Onde era possível ler: “Tá morto ou resolveu não vir?”

Duas batidas na porta e um som ofegante do outro lado. Agora, o olho mágico era a única coisa que os separava e que impedia o encontro e tudo o que o rodeia.

O atraso já não era importante e nem mesmo a mensagem cheia de segundas intenções. Voltaram pelo mesmo caminho e pelas pedras que estava ali para esperá-los.

A vitrola ainda tocava Chico. “

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