quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pose


- Isso! Boa! Olha pro outro lado agora. Ajeita o cabelo! Sorrindo, sorrindo. Perfeito. Tá ótimo por hoje. Até amanhã, querida.

Quando eu era chamado pra fotografar, assim, de brincadeira, nos aniversários, nem imaginava que o meu sustento ia sair disso.

Os olhos do fotógrafo devem ser mais atentos que os das pessoas comuns, pois tudo acontece a nossa volta o tempo todo. Todos deveriam notar tudo de interessante que acontece. Nem todos têm tempo ou vontade.

Ao entardecer a cidade fica muito mais iluminada. É quando saio pra clicar o que realmente gosto. Não somente o que é belo, mas tudo o que é vivo.

As dores, o sofrimento, os risos infantis, a multidão, a pressa. Nada disso pode ser registrado em um estúdio ou no rosto e nas poses fabricadas de uma adolescente precoce que sonha com uma vida em Milão.

Paro em frente a um café, vejo o homem sozinho com um livro aberto,  a menina acompanhada de um sorriso torpe, o músico que toca uma música alegre demais para aquele ambiente. Todos ligados demais nas suas próprias existências e de menos na música em si.

Isso vale uma foto.

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